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“Não há homem imprescindível, há causa imprescindível. Sem a força coletiva não somos nada” - blog da retórica magia/arte/foto/imagem.

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Manual do sobrevivente em caso de estupro mental desvios de caráter e ego zoides no mundo torpe

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Manual do Sobrevivente Moral

Em situações de desvios de caráter
Personalidades egozóides
Mundos deturpados
Ambientes de pressão e repressão
Direitos cerciados, censura à liberdade de expressão


Nossos currículos omitem frequentemente o treinamento para o lobby como também omitem qualquer dose teórica de discussão sobre Ciência Política. Esta omissão não é involuntária, mas constitui uma repressão vitoriana que corre em nosso sangue desde o século XIX. A política é tida como coisa suja, a representação de interesses é vista como um assunto publicamente inconveniente. Essa repressão vitoriana conduz o assunto para o submundo não-oficializado, onde então vale tudo, onde, no esterco e na escuridão, vegeta essa planta autoritária que está escondida em todos nós, pronta para florescer as flores do Mal.

Vamos à definição

Lobby é a ação de influenciar sobre o tomador de decisão na esfera do poder público. A atuação persuasora sobre o poder público. O esforço para influenciar, a tentativa de, a ação para. Por extensão, pode-se chamar de lobby também o grupo de pessoas que exerce essa influência, ou o mecanismo de pressão ou de representação junto ao poder público. A esse último, os franceses chamam de "groupes de pression" e os norte-americanos de "interest groups".

Lobby deve ser distinguido de relações públicas, porque não se trata apenas de uma comunicação social com diversos públicos, mas de uma ação específica visando obter um resultado concreto.
A comunicação social tem por objeto os públicos, o lobby tem como objeto a "tomada de decisão". Relações públicas pode preparar as bases constituintes do poder, esclarecer, persuadir, mas a culminação de uma campanha de opinião é obtida por um momento específico em que se encontra o interesse e a autoridade.

Da mesma forma, a ação comercial ou de venda não pode ser confundida com a de lobby.
O marketing tem por objeto o comprador, cliente, o consumidor, enquanto o lobby (novamente) tem por objeto o poder decisório. Mesmo nas empreiteiras e fornecedoras de governo, onde o tomador de decisão política pode coincidir com o comprador, há o cuidado de distinguir em funções diferentes as duas atividades.

Cabe ainda lembrar que o lobby não é uma profissão e nem poderá ser (mesmo sendo exercido em sua grande maioria por profissionais de relações públicas), dado que o ato de influenciar pode vir a ser exercido por pessoa ou grupo de qualquer agremiação profissional. Não posso imaginar um lobista portador de carteirinha profissional. O fato de o lobby não ser uma profissão não impede que seja registrado, protocolado, classificado para efeito de controle social e de estabelecimento de uma ética própria.

Desta forma, não existe lobby junto à opinião pública, como não existe lobby junto à imprensa.
O lobby, como consumação última de uma campanha de opinião pública, é o beneficiário de relações públicas. Fazer lobby também não deve ser visto como competência exclusiva da recentemente regulamentada profissão de relações públicas.

O lobby é

sempre pejorativo quando outros são beneficiados; quando somos nós os beneficiados, não se usa a expressão. Os democratas norte-americanos usam a expressão contra grupos econômicos vinculados ao Partido Republicano: neste sentido, o lobby das petroleiras.

Saindo fora do debate semântico, fazem lobby todos os grupos da sociedade, todas as pessoas físicas e jurídicas, os grupos de interesses, representantes de ideologias de direita e de esquerda. O lobby não é departamentalizado dentro da estrutura da empresa. Fazem lobby em tempo parcial todos os executivos, desde o presidente do conselho até o engenheiro de obras.
Fazem lobby em tempo integral geralmente uma ou mais pessoas localizadas em diretorias ou assessorias a nível de presidência. Essa "assessoria política", ao mesmo tempo, esclarece a diretoria, planeja a ação e articula os contatos.

O lobby mais comum é o individual, de uma empresa ou de um grupo econômico;
mas ele atinge a sua forma mais complexa quando atua coletivamente através de grupos de pressão, associações de classe, consórcios, sindicatos, sociedades civis, clubes de diretores, associações comerciais ou federações de indústria.

É evidente que o lobby, transformado em instrumento do poder econômico, torna se nocivo, precisando ser regulamentado e controlado pelo poder público. Mas ele não é necessariamente um instrumento prejudicial à sociedade aberta e à representação democrática. A representação dos interesses tanto se pode fazer através das urnas, como através dos grupos de interesse. Nota-se a sua presença nas sociedades mais formalmente democráticas, como uma alternativa de eficácia mais rápida e segura.

A imagem é contundente dos conflitos de interesses que muitas vezes explodem no espaço público. Pode acontecer em qualquer esquina, em qualquer tempo, porém dificilmente conheceremos cara a cara quem são os agentes que provocam ou disparam as forças de pressão sobre os interesses da sociedade.

PERFIL DO LOBBYIST

  1. Conhecimento de Governo.
  2. Cultura Geral.
  3. Conhecimento Jurídico.
  4. Senso Comercial.
  5. Discrição/Confidencialidade.
  6. Tato Político.
  7. Postura.
  8. Conhecimento do Produto.
  9. Integridade Ética.

COMO MONTAR UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO SOBRE O AMBIENTE EXTERNO


Regras Básicas:
  • 1. A informação é fundamental.
    Conhecer o ambiente sobre o qual se vai trabalhar.
  • 2. Evitar identificação político-partidária da empresa.
  • 3. Evitar "figurões" para a direção das relações externas. Procurar profissionais.
  • 4. Trabalhar no curto e no longo prazo.
  • 5. Evitar pontos de conflito entre a empresa e o meio ambiente.
  • 6. Identificar variáveis futuras. Ter canais próprios para identificar metas do governo.
  • 7. Análise da estrutura econômica, política e social.
  • 8. A imprensa é um material básico de trabalho.

LEITURA CRÍTICA DA IMPRENSA

  1. Destrinchar a notícia. Identificar sua origem. Foi "press-release"? Quem distribuiu? Quem está pagando?
  2. Análise comparativa de vários jornais. Identificar pontos comuns (estruturas de frases repetidas) em vários jornais, que possam fornecer pista para a origem da notícia.
  3. Analisar o balanço dos veículos. Conhecer o endividamento dos periódicos. Dívida em dólar ou real? Com que banco?
  4. Analisar a carteira de anunciantes. De quem o jornal depende?
  5. Interesses ostensivos do veículo.
  6. Conhecer os interesses não-explícitos. Perfil do proprietário e dos jornalistas.
  7. Analisar notícias em nível nacional. Às vezes a notícia surge em outras praças.
  8. Acompanhar o perfil das autoridades. A sua política, os seus pronunciamentos, os seus interesses.
  9. Procurar o "off" em contatos informais com os jornalistas.
  10. Compreender como um jornalista produz a notícia.


    Combinar análises econômico-políticas mais profundas (cenários semestrais) com contatos para análise conjuntural mais frequentes (relatórios de conjuntura) cada 15 dias. Almoços com jornalistas.



PLANO DE LOBBY

Metodologia de trabalho

I. DEFINIÇÃO DO OBJETO DO LOBBY

  1. O que queremos? Qual é o nosso pleito?
  2. É legal?
  3. É moral?
  4. Coincide com a causa pública ou com o interesse da sociedade?
  5. Coincide com o "discurso" ou ideologia do governo?
  6. Qual é o nosso poder político de barganha?
  7. Qual o atrativo (político, ideológico, econômico, eleitoral) que nosso pleito apresenta?
  8. Qual é a imagem política de nossa empresa? Temos contencioso social/político?
  9. Quais os nossos pontos fortes e pontos fracos? (LISTAR)
  10. Qual é o poder de barganha de nossos possíveis aliados?

II. MONTAGEM DA ESTRATÉGIA

  1. Identificação dos interesses ou pleitos. Definição do projeto. O QUÊ
  2. Localização das áreas que decidem no governo. Definição dos segmentos do ambiente político. ONDE
  3. Identificação de oportunidades e ameaças no ambiente. ONDE
  4. Identificação dos atores e aliados. QUEM
  5. Identificação dos oponentes e/ou interesses contrários. QUEM
  6. Determinação do momento oportuno para a ação. QUANDO
  7. Elaboração do orçamento de investimentos na campanha ou no projeto. QUANTO
  8. Definição da "lógica dos acontecimentos" da sequência e das etapas da campanha. COMO

III. INICIAR A COALIZÃO

  1. Identificação dos atores principais (poder decisor. aliados. oponentes).
  2. Identificação dos segmentos favoráveis e desfavoráveis do ambiente.
  3. Análise do nosso poder de barganha.
  4. Avaliação do poder de barganha de nossos aliados.
  5. Seleção de aliados.
  6. Negociação com os aliados.
  7. Identificação dos oponentes.
  8. Avaliação do poder de barganha dos oponentes.
  9. Formulação de estratégias ofensivas e defensivas.
  10. Antecipação de contra-respostas dos oponentes.
  11.  Negociação com os oponentes.
  12. Consolidação da coalizão.

IV. DESENVOLVER A CAMPANHA ("PUBLlCIZING")

  1. Definição do projeto. Elaboração do documento básico.
  2. Preparo interno da empresa.
  3. Formação do grupo de pressão: entidade de classe, fundação, grupo de opinião, assessorias de comunicação social, assessorias especiais.
  4. Escolha dos instrumentos de comunicação social: imprensa, relações públicas, carta a congressistas, busca de aliados dentro do governo, visitas à empresa. etc.
  5. Escolha e treinamento dos agentes.
  6. Redação e divulgação dos documentos. "press-releases" e "mailing lists".
  7. Iniciar a campanha: levar a questão ao público. Escolher o momento certo.
  8. Criar uma atitude favorável por parte da opinião pública.
  9. Escolher o momento certo e trabalhar as áreas decisórias do governo individualmente ou em grupo. Negociar.
  10. Participar de comissões de assessoramento dos legisladores.
  11. Fechar a questão. Concluir a negociação.

V. ESTRUTURA DO LOBBY

  1. Definição de responsabilidades e autoridade.
    Distribuição dos "papéis".
  2. Identificar os executivos que atuarão na campanha.
    Áreas internas da empresa envolvidas na discussão do problema.
  3. Definir o orçamento de cada projeto.
  4. Contratar assessoria individual externa.
    Contratar os agentes do lobby.
  5. Contratar empresas especializadas em comunicação social para apoio de campanha e facilitação de contratos.
  6. Organizar os recursos internos: instalações. secretaria, "mailing list", material promocional, folheteira, banco de dados, assessoria técnica de produto, sistemas de informações, comunicações e correspondências.
  7. Treinar as pessoas envolvidas.
  8. Definir com o presidente da empresa a sua participação pessoal.


Problema Moral do "LOBBY"

PRIMEIRO

O debate das relações entre o poder e os diversos grupos de pressão ou lobbies traz, freqüentemente, o tema da moralidade e da corrupção. 
Este ensaio procura enfocar um pequeno aspecto, dentro da imensidão dos problemas dessa área. Ao percorrer a sua extensão, conclui-se que a questão está longe de ser encerrada. Por falta talvez de maior debate e amadurecimento por parte dos próprios dirigentes, as pessoas envolvidas sentem-se desconfortáveis ou com má consciência ao abordar o assunto.

A questão da propina no lobby levanta mais perguntas do que respostas: 

É possível julgar moralmente o comportamento político?
Há maior anomalia no tráfico político brasileiro do que em outros países?
Um "Estado de Exceção" produz um ambiente moral melhor ou pior do que o de outros sistemas abertos?
O capitalismo selvagem é mais corruptor do que o comunismo?
A pressão pela sobrevivência durante a recessão aumenta as práticas de corrupção?
Quem é o corruptor: quem pressiona para obter um favor ou quem o dá em troca de um ganho pecuniário?
É possível julgar moralmente quem dá uma propina?
Você daria propina para salvar uma vida?

Em maior ou menor escala, o comportamento político usa as paixões humanas e nisso está o seu potencial de provocar juízos morais
As relações de poder são relações de troca. De um lado, alguém recebe apoio ou sustentação; de outro, os
contribuintes esperam algo em câmbio. Em toda relação de poder existe o tráfico de influência: quem recebe apoio dá algo em troca para manter as bases de apoio.
Mesmo o presidente de uma empresa, acionista controlador que seja, sabe que deve fazer concessões em troca de apoio de determinados acionistas ou diretores.
É, pois, ingênuo supor que o comportamento político esteja na esfera do ideal. Quem vota favorece alguém; o votado deve corresponder às expectativas e interesses de seus constituintes até um ponto que ele considere razoável. Do sistema representativo, o tráfico político estende a sua asa sobre quase todas as esferas da ação do poder, chegando finalmente até a instância que estamos abordando. ou seja, o tráfico de influências nas atividades comerciais.
Esse tráfico político, que poderíamos considerar teoricamente normal, deve ser delimitado por princípios da Razão Moral superior. a respeito às leis e aos direitos humanos, o bem comum, o interesse público, a segurança nacional. Porém, já dizia Maquiavel que os interesses têm raízes mais profundas do que as convicções. 
Dada a grande pressão dos interesses humanos, o comportamento político precisa ser controlado e posto a descoberto para que os instrumentos da sociedade possam exercer o seu controle. 
Há momentos em que a sociedade civil se torna delinqüente, como dramaticamente descreve William Golding em O Senhor das Moscas. Momentos esses em que se pode até pôr em dúvida a capacidade da própria sociedade civil de vigiar os seus próprios atos, como no caso das sociedades totalitárias, as sociedades fascistas ou nazistas, por exemplo.
Teoricamente, uma sociedade aberta favorece mais o controle do comportamento político do que uma sociedade totalitária ou autoritária, ou uma sociedade revolucionária no seu período de "terror". Porém, o julgamento moral torna-se difícil numa comparação forçada entre uma sociedade autoritária do tipo "despotismo esclarecido" de Frederico II, na Prússia, e uma sociedade aberta, porém revolucionária, como o da Revolução Francesa. Qual delas foi mais delinquente em seu comportamento político?

Uma coisa têm as sociedades fechadas em comum: elas tranquilizam mais um observador ingênuo beneficiário da situação. Não apresentam "escândalos". O comportamento dos dirigentes e dos grupos de pressão é cercado de uma ideologia oficial que os "santifica". Em contraposição, a sociedade aberta, com o escrutínio dos órgãos de informação pública, apresenta na superfície a intranquilidade que caracteriza o jogo aberto dos interesses, o eriçamento das contradições e conflitos, a massificação das paixões. O bom burguês é levado ao cotidiano escândalo moral da sociedade aberta.
A entrada para a era da "abertura" brasileira deve, sem dúvida, ter despertado em muitos brasileiros a visão de uma sociedade em conflito, onde as tensões se apresentam em campo aberto, onde o desacordo é expresso até com violência, onde cada grupo e cada minoria se acha no dever de vir lutar pelos seus interesses à luz do dia. A violência cotidiana dessa expressão dos interesses e desacordos é que põe algumas pessoas em sobressalto. 
É preciso ter humildade e esperança para aceitar que esse livre jogo das expressões venha a produzir uma sabedoria coletiva. Às vezes, é esperar demais supor que se chegue a soluções sábias. A democracia, já dizia Churchill, é o menos mau de todos os regimes.

SEGUNDO

Outra questão é a dificuldade de julgar a moralidade das ações dos outros. 
No folclore popular, sempre que os outros estão ganhando nós estamos sendo roubados.
A autoridade é sempre corrupta quando os favorecidos não somos nós.
O julgamento moral em política é quase impossível no momento em que a ação decorre. Julgar se um agente usou os meios apropriados, se não feriu o bem comum, pode ser feito a posteriori, no futuro, pelos historiadores políticos. Quando muito, podemos julgar os nossos próprios atos. Quando muito porque, mesmo aí, a psicologia freudiana nos ensinou o quanto de submerso, inconsciente e nebuloso existe em nosso próprio comportamento.

Em política, freqüentemente a moral é decorrente de uma "ética de situação" pela qual uma dada ação só pode ser julgada dentro de coordenadas ad hoc do aqui e do agora, dentro de um contexto concreto que pode justificar ou não a moralidade.
Devem existir "princípios eternos" superiores, como, por exemplo, o respeito pela vida, mas o comportamento político cotidiano está às voltas com problemas mais comezinhos, como: fazer concessões, vender-se ou não, dar ou receber propinas, exercer coerção sobre pessoas utilizando a influência de seus superiores, amedrontar, etc.
O esforço para moralizar uma determinada época consiste em estabelecer as "regras do jogo", os "códigos de ética", criar dispositivos de controle ou de divulgação.
Apesar de todo esforço que deve continuar sendo feito, assim mesmo resulta difícil julgar moralmente as outras pessoas. Só podemos julgar moralmente a nós mesmos.


TERCEIRO


Após Watergate, muitas empresas norte-americanas, apanhadas no escândalo das propinas políticas, e até algumas tendo os seus dirigentes condenados criminalmente, viram-se às voltas com a necessidade de uma moralização das práticas comerciais. Algumas filiais brasileiras de multinacionais têm, até hoje, a prática de exigir de seus diretores e gerentes a assinatura de um compromisso anual de não exercer nenhuma pressão sobre funcionários governamentais que possa ser classificada como coerção, extorsão ou corrupção. Algumas empresas controlam rigorosamente, através de "Políticas de Dar e Receber Presentes", a troca de favores entre diretores e figuras no poder público.

No processo de "abertura", a própria sociedade brasileira está se tornando consciente da necessidade de ampliar os controles. Sabe-se que a própria "comunidade de informações" está voltada, hoje, para o acompanhamento de situações e de grupos onde se suspeita de abuso do poder econômico ou de prática de corrupção. Praticamente, todos os ministérios e secretarias de Estado estão se organizando para "auditar" e corrigir comportamentos. Essa ação de "auditoria" do poder público é sem dúvida necessária e elogiável, mas não esgota o assunto. 

É a própria sociedade civil quem deve exercer a "auditoria" sobre as suas práticas políticas.

Como não acredito no "rearmamento moral", só posso esperar que os diversos grupos que compõem a sociedade não só debatam os seus "códigos de ética", mas exerçam o controle, pondo a público as questões. Independente de qualquer imperativo religioso ou confessional, a sociedade deve exercer os seus mecanismos de consciência à luz da Razão Moral. 
Os órgãos de imprensa têm particularmente o dever de escrutinizar o comportamento político em todas as questões de interesse e bem comum. Tornar o jogo conhecido pela opinião pública. "Disclosure", ou disposição para estar aberto ou transparente, é um requisito de todos os cidadãos quando o que fazem afeta o bem comum.
A sociedade da "abertura" não tem um único centro de poder, mas vários; não tem um só partido no poder, mas vários; não tem uma só ideologia, mas varias. Conviver com esse pluralismo requer estar sendo devassado e escrutinizado diariamente. A sociedade que sobreviver à "abertura" deverá dar prioridade ao cumprimento das leis e ao respeito pelos direitos humanos, deverá, portanto, colocar no mais alto nível o imperativo moral.

QUARTO


Dar dinheiro ou bens de valor venal elevado em troca de favores políticos está muito ligado à opinião popular sobre os lobbies. Aqui entra a questão da propina nas trocas de favor.
Em Brasília, usa-se a terminologia anglo-americana para isso: "brabe", "bribery" (suborno) ou "bribing" (ato de subornar).

Eis, aqui, o resultado de minhas investigações:
  1. Algum empresários não aprovam "em nenhuma hipótese" essa prática em suas empresas, mesmo à custa de perder negócios ou reduzir a atuação em certos setores.
  2. Outros sabem que alguém nos seus escalões inferiores dá propina, mas oficialmente desconhecem a questão.
  3.  Alguns consideram que isso "faz parte das regras do jogo" e, caso necessário, aceitam a situação.
  4. Para alguns, há uma distinção entre aceitar fazer "em nome da sobrevivência da empresa" e não desejar fazê-lo em nome pessoal, como se fosse possível distinguir com nitidez a responsabilidade moral da pessoa física e da jurídica.
  5. Há quem costume classificar áreas ou setores onde a prática da propina é "condição do negócio", e outras em que não é.
  6. Outros levantam a questão de quem é o corruptor: o funcionário do governo ou seu intermediário que propõe o percentual de ganho, ou o funcionário da empresa que dá a propina, como se deixar-se corromper não seja parte da corrupção.
  7. Há ainda a questão de saber se a propina só consiste em "dar dinheiro" ou alternativas como a promoção no emprego, o favor sexual, etc. O folclore machista está saturado de episódios de natureza sexual, etc.
  8. Há quem considere a propina como um costume cultural, apontando povos mais ou menos corruptos, no que vai um traço de preconceito nacional ou racial.

Toda essa questão é pelo menos muito controversa, como se vê. O mal entendido é ainda mais favorecido pelo obscurecimento e pela atmosfera de mistério que o cerca. 
Não discutir a questão é talvez mais daninho do que deixar como está.


Gilberto Freire já escreveu sobre o sentido de culpa e má consciência que o brasileiro tem diante do lucro, identificando as suas raízes culturais e religiosas. Em nossa sociedade, ainda de certa forma rural, o homem de negócios ainda tem um grande espaço a ganhar quanto à legitimidade social de seu trabalho. O empresário é periodicamente alvo das acusações da má consciência popular. No assunto em pauta, o empresário é responsabilizado pelo grau de corrupção das práticas comerciais. O lobby empresarial está ligado popularmente à idéia de propina. Na realidade, o grande vilão na sociedade brasileira não é o Estado, é o homem de negócios. Eis por que é duplamente importante que o próprio empresário promova a luta contra a corrupção.



No sentido de contribuir com algo concreto, sugiro, aqui, aos empresários algumas medidas:

  1. Estar pronto a esclarecer a ética em qualquer caso concreto.
  2. Evitar ou abandonar a vinculação com pessoas do poder ou seus intermediários que sejam conhecidos como recebedores de propina.
  3. Detectar, internamente, as áreas envolvidas e fazer uma profilaxia organizacional.
  4. Introduzir no treinamento dos executivos a discussão da ética de negócios.
  5. Colaborar com grupos de trabalho, visando coibir as práticas incorretas.
  6. Estabelecer uma "Política para Dar e Receber Presentes" ou "Brindes", e fazê-la cumprir pelos diretores, gerentes e associados.
  7. Colaborar ativamente com todos os setores vivos de consciência da sociedade (como a imprensa) para o progresso da moralidade pública.
  8. Examinar detidamente as áreas de contencioso da empresa sob o ponto de vista não apenas legal, mas ético.
  9. Conduzir o planejamento estratégico para a dimensão social e ética, evitando que suas diretrizes sejam produto de uma "mente tecnocrática".
  10. Evitar associações com pessoas ou grupos que reconhecidamente atuam contra o interesse público e bem comum.

QUINTO

Um gesto de boa vontade para com as pessoas de fora é a prática de dar presentes. Dar presentes não deve ser confundido com dar propinas. Um presente é simbólico, elegante, sem alto valor venal, não é negociado, não é dado no momento do favor, não é para ser devolvido, é, enfim, um sinal de atenção. 

Os presentes são geralmente baseados em sugestões dos diretores ou gerentes, adquiridos e distribuídos pela área de relações públicas, numa época determinada (o Natal, por exemplo), em categorias de valor conforme uma classificação em quatro ou cinco níveis de beneficiado.
A instituição cujos funcionários recebem brindes deve do mesmo modo elaborar uma política para o recebimento de presentes. O funcionário ou diretor presenteado deve levar o fato ao conhecimento da presidência ou da direção geral, para que o assunto não esteja carregado de mal-entendidos. Presentes, mesmo de alto valor, não devem ser recusados; são aceitos como gesto de simpatia ou de troca de atenção, mas, conforme o nível, poderão ser destinados a um fundo central e depois sorteados entre os membros da organização ou doados a uma instituição de caridade. 
Pode-se estabelecer um nível de valor pelo qual o presente fique com o destinatário, seja destinado ao fundo geral para sorteio ou seja destinado a uma instituição filantrópica.

Em breve acompanhe aqui a continuação dessa série MANUAL DO SOBREVIVENTE MORAL:


  • Poder, Política e Desenvolvimento Organizacional
  • Cultura Empresarial Brasileira
  • Política e Responsabilidade Social da Empresa
  • Elegia do Empresário Falido (Ou: Vamos Tentar Tudo Outra Vez)
  • Esta Crise Ameaça Levar-nos à Desmoralização Interna,
  • A Responsabilidade Democrática numa Sociedade em Crise
  • Pensar Claro, Primeiro Passo para uma Regeneração Política
  • Especulação sobre a Possibilidade do Socialismo no Brasil
  • Como Crescer numa Era de Retórica Populista
  • Para Ajudar a Compreender a Função da Imprensa
  • Como Fazer "LOBBY" com a Oposição no Poder
  • Negociação
  • É Hora de nos Livrarmos do Raciocínio Tecnocrático






Flores Astrais
Secos e Molhados

Um grito de estrelas vem do infinito
E um bando de luz repete o grito
Todas as cores e outras mais
Procriam flores astrais

O verme passeia na lua cheia
O verme passeia na lua cheia
O verme passeia na lua cheia
O verme passeia na lua cheia






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