Desenvolvimento Harmonioso do Homem – perseverança paciência e compaixão
Afirmando, negando e reconciliando com a sociedade e o mundo
GESTÃO DE SÁUDE
PROGRAMA DE REEDUCAÇÃO EMPRESARIAL PARA O AUTOCONHECIMENTO, SAÚDE MENTAL E CULTIVO ESPIRITUAL
LEI AQUI UM RESUMO DOS CAPÍTULOS DA OBRA BASE DESTE PROJETO DE MONOGRAFIA.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – O PROBLEMA
1.1 Objetivos
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.2 Fatores Humanos
CAPÍTULO III –ESTUDO TEÓRICO: PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SUPLEMENTAR
3.2 Plano de ação
4.1 Aspectos conclusivos,
4.2 Considerações sobre as questões formuladas
4.3 Sugestões de trabalhos futuros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXO A - BASES LEGAIS
ANEXO B - O HOMEM QUE TROUXE O ENEAGRAMA PARA O OCIDENTE
ANEXO C – A IMPORTÂNCIA DA GINÁSTICA LABORAL NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS
APENDICE A - ESTUDO DO ENEAGRAMA
A.1 O valor objetivo de certos símbolos e as origens do eneagrama
A.2 A aplicação psicológica do eneagrama
A.3 Os três grupos de seres humanos básicos e os quatro grupos superiores
A.4 A importância do estudo prático do eneagrama para o autoconhecimento
A.5 O Eneagrama dos nove traços (defeitos) principais
A.6 Definições consideradas para o estudo dos traços (defeitos) principais
A.7 O eneagrama interior e a questão dos "eus"
A.8 Definições dos Nove Traços ou Defeitos Principais
A.9 Eneagrama: uma ferramenta de gestão e autoconhecimento
A.10 Eneagrama: uma ferramenta milenar
A.11 Por que é que este mapeamento psicológico é tão importante?
A.12 Todos temos os nove traços, porem um deles é nosso traço principal.
A.13 O eneagrama e seus movimentos e dinâmica
A.14 Como é que o eneagrama pode ser aplicado aos negócios?
A.15 Algumas dicas para por em pratica o eneagrama na vida pessoal e profissional
APENDICE B - PROGRAMA DE EDUCAÇÃO SUPLEMENTAR
B.1 Perguntas à serem feitas para a formulação do material do Programa de Educação Suplementar
B.2 Vinte conselhos saudáveis para melhorar a qualidade de vida de forma prática e habitual
B.3 A Pirâmide Alimentar
B.4 “Sabedoria da Visão Espiritual”
Por
MAURO JOSÉ DE AGUIAR BICHARA JUNIOR
1.1 Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo descrever e desenvolver um “Programa Educacional”, relatando os principais achados da pesquisa bibliográfica executada com a meta de desenvolver o autoconhecimento individual e a incorporação dos fatores humanos aos processos de qualquer setor de qualquer empresa que se encontrem.
Acaso então os gênios religiosos da humanidade foram meros sonhadores ao nos recomendar o amor a Deus como o mais importante dos preceitos?
A deterioração coletiva da consciência é resultado de nosso espírito excessivamente mercantil, ao que não convém que se invoquem valores que possam competir com as ganâncias.
Passando pelo tema da meditação e da consideração do elemento terapêutico no desenvolvimento humano que estou propondo como complemento para a atual formação educacional, apresenta-se num programa suplementar de autoconhecimento, reeducação interpessoal e cultivo espiritual, já aludindo implicitamente ao terapêutico através de dois fatores intimamente conexos: o do conhecimento de si ou insight, e o de promover uma mudança voluntária nas relações humanas.
No programa se combinam meditação e psicoterapia, no entanto, é mais preciso dizer que nele se combinam a meditação, o autoconhecimento e a reparação interpessoal.
Com referencia ao autoconhecimento, que constitui o objetivo das assim chamadas psicoterapias de insight ou “psicoterapia profunda”, foi reconhecido desde sempre como uma via de transformação. A ele professamos certa veneração coletiva ao “Conhece-te a ti mesmo” que tanto associamos com a figura e missão de Sócrates e com o Oráculo de Delfos; porém nisto somos coletivamente hipócritas, pois caso contrário o autoconhecimento teria lugar fundamental em nossa prática educativa.
Os que sofrem psicologicamente, quer dizer, os que não podem desconhecer seu mal emocional, descobriram que necessitam do autoconhecimento para corrigir seu estado disfuncional e a necessidade de cura coletiva alimentou o desenvolvimento do novo caminho de transformação que é a psicoterapia moderna.
Enquanto que as escolas espirituais tradicionais abordaram a superação do ego através da prática da conduta virtuosa e da contemplação espiritual, a psicoterapia espera em primeiro lugar que a transcendência dos condicionamentos infantis sobrevenha através da compreensão de si mesmo. E ainda que se possa arguir que a psicoterapia não trouxe tanta luz ao mundo como as grandes religiões com seus santos e profetas, não se pode desconhecer sua contribuição, formidável e talvez indispensável para o nosso tempo.
O empreendimento de encaminhar-se para a compreensão de si mesmo compreende diversas facetas:
1. – A tomada de contato com a própria experiência no aqui e agora, que implica não só na capacidade de aceitação e reconhecimento da própria experiência que se cultiva na prática, mas numa educação da capacidade de ser testemunha de si mesmo, quer dizer, de viver o mais conscientemente possível em lugar de andar pela vida “no piloto automático”.
2. – A retrospecção, quer dizer, a tomada de contato, através da recordação, com a experiência passada. Tal clarificação retrospectiva é estimulada e facilitada, por sua vez, pela expressão, seja através da escrita ou da comunicação oral. No programa, põe-se a escrita a serviço da compreensão da própria vida, por um lado, e, por outro, a comunicação oral sistemática, através da associação livre em um contexto meditativo, serve para o esclarecimento e análise das experiências cotidianas.
3. – A compreensão da experiência do momento no contexto da experiência total. A compreensão de si mesmo vai além de saber o que se sente e o que se pensa em um momento determinado: o que na psicoterapia se chama insight, implica na organização de nossas observações de nós mesmos em uma configuração coerente, o que implica entender, por exemplo, os padrões repetitivos em nossa vida relacional, assim como a relação de nossas experiências presentes com as do passado. Implica, também, entender nossa personalidade e como ela influi em nossa vida. O maior estímulo para a compreensão de nós mesmos nos é proporcionado pelo diálogo com quem, em virtude de seu próprio autoconhecimento, é capaz de entender o que nos sucede. No programa este diálogo tem lugar no contexto de diversos exercícios psicológicos interpessoais e em laboratórios terapêuticos com profissionais multidisciplinares..
4. – A tudo isso deve agregar-se um componente adicional do processo de autoconhecimento, como é a clarificação da compreensão através de formulações teóricas ou mapas de referência. Cada escola psicológica interpreta as experiências do indivíduo a partir de uma teoria algo diferente, e aquela na qual nos apoiamos não é nenhuma das conhecidas no mundo acadêmico, mas uma versão da psique desenvolvida a partir de uma inspiração esotérica da Ásia central.
Na educação interpessoal, mais do que em nenhum outro aspecto da educação, implica necessariamente no reaprender, na reparação relacional, no trabalho encaminhado para a mudança de conduta. Podemos dizer que, como no caso da compreensão de si mesmo, esta reeducação vai mais além de fórmulas ou técnicas, constituindo um aspecto potencial de cada momento de nossa vida.
A compreensão da relação entre saúde/doença mental e trabalho, a busca de respostas concretas para o adoecimento psíquico oriundo das situações de trabalho, o reconhecimento dos determinantes da doença ou do sofrimento psíquico, as efetivas mudanças que possam ser geradas pelos resultados encontrados neste campo – tudo isso será fruto do diálogo, do esforço e do trabalho de um conjunto de atores, dentre os quais estão os profissionais de saúde responsáveis pelo atendimento médico e psicológico, os estudiosos do tema, os sindicalistas e, sobretudo, os próprios trabalhadores, que ainda precisam tomar consciência de algo fundamental: o sofrimento ou o transtorno psíquico deve ser considerado como queixa legítima e, por esta razão, deve ter o mesmo estatuto de qualquer outra queixa de doença relacionada ao trabalho, independentemente do lugar onde ela for relatada, seja nas empresas, na perícia do INSS, nos CRST, nos consultórios de médicos ou de psicólogos.
A religiosidade e a espiritualidade sempre foram consideradas importantes aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes. Entretanto, a medicina ocidental, como um todo, e a psiquiatria em especial têm tido, essencialmente, duas posturas em relação ao tema:
1) negligência, por considerar esses assuntos irrelevantes ou fora de sua área de interesse principal;
2) oposição, ao caracterizar as experiências religiosas de seus pacientes como evidências de psicopatologias diversas. A tradição da medicina oriental, por outro lado, busca integrar de forma explícita as dimensões religiosa e espiritual ao binômio saúde/doença.
Existem evidências crescentes de que a religiosidade está associada com saúde mental. Em um estudo de revisão, foi mostrada uma associação positiva em 50% dos casos e negativa em 25% deles. Nessa revisão, a religiosidade foi considerada como sendo um fator protetor para suicídio, abuso de drogas e álcool, comportamento delinqüente, satisfação marital, sofrimento psicológico e alguns diagnósticos de psicoses funcionais (Gartner et al apud Levin et al7). Ao estudar a relação entre religiosidade e tempo de internação, foi constatado que pacientes deprimidos religiosos permaneceram menos tempo internados, em relação aos não religiosos. Estudando pacientes com AIDS, por meio de uma escala para medir bem-estar espiritual e desesperança, observou-se que os pacientes com escores maiores em bem-estar espiritual tendiam a ser mais esperançosos.
“Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.
E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem.
E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?
O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade;
Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;
Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;
Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.
Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.
Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;
Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio?
Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?”
(Romanos 2:1-23)
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.
Não há ninguém que entenda;
Não há ninguém que busque a Deus.
Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis.
Não há quem faça o bem, não há nem um só.
A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura.
Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
Em seus caminhos há destruição e miséria;
E não conheceram o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante de seus olhos.
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.
Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.”
(Romanos 3:10-26)
Desde a Assembléia Mundial de Saúde de 1983, a inclusão de uma dimensão "não material" ou "espiritual" de saúde vem sendo discutida extensamente, a ponto de haver uma proposta para modificar o conceito clássico de "saúde" da Organização Mundial de Saúde para "um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não meramente a ausência de doença" (WHO/MAS/MHP/98.2).
No entanto, existem vários problemas metodológicos nos estudos da relação entre saúde e religiosidade. Sloan et al (1999) destacam que diferenças genéticas, comportamentais e variáveis como idade, sexo, educação, etnia, nível socioeconômico e estado de saúde podem ser importantes vieses de confusão nesses estudos. Esses mesmos autores sugerem a necessidade de estudos bem conduzidos para orientar condutas baseadas em evidências também nesta área. Um primeiro problema metodológico nessa área é o de como "medir" religiosidade. A avaliação da religiosidade é feita de diversas maneiras nos diferentes estudos. Em geral, a variável "religiosidade" é avaliada em relação à afiliação (católica, budista e outras), à prática religiosa (praticante/ não praticante) ou à freqüência aos cultos (semanal, mensal e outras). Estas estratégias são sabidamente limitadas para estudar uma variável de tal complexidade.
Não existem, na literatura, instrumentos para avaliar a religiosidade que sejam ao mesmo tempo facilmente aplicáveis, satisfatórios aos aspectos mais genéricos das religiões - isto é, aqueles presentes em todas ou na maioria delas - e também capazes de incorporar realidades específicas de uma determinada religião. Além disso, os poucos instrumentos disponíveis são desenvolvidos, na maioria das vezes, em um único país (em geral, nos Estados Unidos) e são, provavelmente, pouco válidos para estudar a prática religiosa em diferentes culturas.
Em função disso, a Organização Mundial da Saúde, por meio do Grupo de Qualidade de Vida, incluiu um domínio denominado "religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais" no seu instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, o WHOQOL-100 (World Health Organization Quality of Life Instrument - 100 itens). Este domínio é composto por quatro questões, que se mostraram insuficientes em testes de campo realizados em vários centros. Assim, o Grupo de Qualidade de Vida decidiu desenvolver um módulo do WHOQOL-100 específico para avaliar esta dimensão dentro de uma perspectiva trans-cultural.
A discussão da categoria teórica metodológica de apoio social, teve seu início em intensos debates sobre saúde pública, nos EUA, em relação ao chamado social support. Sua definição envolve uma gama de fatores inter-relacionados, dentre eles as redes sociais, as relações íntimas e as relações comunitárias. Assim, será apresentada a definição de apoio social, segundo alguns autores pesquisados. Para Barrios (1999b) o apoio social inclui qualquer atividade que permita num espaço de tempo compartilhar com familiares, amigos, grupos religiosos, entre outros grupos, ou com qualquer pessoa que ofereça um apoio afetivo ou material. A importância desta categoria está na manifestação da solidariedade e no efeito benéfico como expressão de saúde para as pessoas que participam das atividades. Barrios (1999b) aponta para um dado interessante sobre o apoio social que é assinalado desde a antigüidade, pois segundo este autor, a Bíblia refere-se sobre isso: ... Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade... (1 João 3:17, 18, apud Barrios, 1999b: 166).
Assim, o apoio social comporta um valor ético e político que é expresso, segundo Barrios, no Livro dos Gálatas “...Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.’...” (Gal 5:14, apud Barrios, 1999b: 167).
Outra questão que este autor aponta é com relação ao conceito de apoio social, sobre o qual não existe uma definição universalmente aceita, pois alguns autores propõem definições que abrangem três níveis de análise: comunitário, redes sociais e relações íntimas que incluem o estudo sobre o apoio social. Outros autores apresentam definições baseadas na existência de quantidades de relações sociais. Entre as relações mais estudadas, estão o estado civil e a existência de freqüência de contatos com amigos e familiares (Barrios, 1999b).
“Sin embargo solo a existencia de relaciones no implica la seguridad de apoyo. Por ello, otro tipo de definiciones enfatizan las funciones que cumple el apoyo social, y coincidem en considerar este concepto como um constructo multidimensional con distintas categorías, siendo las principales la provisión de apoyo emocional, apoyo material e apoyo informacional. Todos estos aspectos forman parte de lo que se entiende por apoyo social, y todos ellos deben incluir en las definiciones” (Barrios, 1999b:167).
Se os modos humanos de viver incluem o lugar do trabalho, da sexualidade e da família; se a história de vida das pessoas é também a sua história biológica e a história dos momentos percebidos por elas como significativos – se é assim, para qualificar e compreender os modos de sofrimento psíquico relacionados ao trabalho (sejam eles configurados ou não como transtorno ou doença mental), é necessário, além de considerar a concretude da situação de trabalho, levar em conta os vários aspectos da história do trabalhador, bem como seu modo de significar os eventos marcantes da sua vida.
Neste sentido, Tavares (2004, p. 55), a partir de sua experiência clínica, reconhece que determinados aspectos reais da situação de trabalho podem produzir sofrimento psíquico em muitas pessoas, devendo ele ser tratado, prioritariamente, como um problema relacionado ao trabalho. Por outro lado, afirma que há situações de sofrimento que são resultado da experiência de vida dos indivíduos localizada fora do seu contexto de trabalho. Entretanto, considera que o sofrimento é resultado da interação dos aspectos do trabalho e da história das pessoas. "A ressonância entre questões do trabalho e aspectos da experiência e da história do sujeito, portanto, a ressonância de fatores objetivos e subjetivos, é responsável pela maior parte do sofrimento na situação de trabalho."
Lima (2002), por sua vez, afirma ser preciso levar em conta tanto o discurso do trabalhador quanto os aspectos objetivos de seu trabalho. Assim, para articular objetividade e subjetividade, de modo a compreender efetivamente o comportamento humano no trabalho, é necessária "a compreensão da subjetividade concreta", no verdadeiro sentido politzeriano (Lima, 2002, p. 80). A autora defende que é preciso evitar cair tanto no subjetivismo, que se restringe à pura interioridade dos indivíduos, quanto no objetivismo, que toma a realidade como pura exterioridade contraposta aos sujeitos.
Considerando o que foi exposto até aqui, a meu ver, deveria valer também para a compreensão e o reconhecimento dos casos de saúde mental a recomendação que Barros e Guimarães (1999, p. 83) fazem para se reconhecer uma queixa de LER: é necessária "ao profissional de saúde uma escuta sem preconceitos dos sofrimentos que lhe são relatados, de maneira que possa estar sensível para ouvir mais do que ver, e entender mais do que medir."
É importante considerar que as pessoas vivem nas intersecções das várias esferas da vida e da variedade de significados e sentidos que constroem tanto individual como coletivamente. Portanto, a subjetividade é também construída na história dessas intersecções e, como afirma Sato (2002, p. 43), “... se expressa de diversas formas – instituições criadas (formas de relação, códigos, ritos, regras, valores, etc.) e as práticas – sendo a verbalização apenas um dos canais de sua expressão. Isto significa que o estudo da subjetividade não se restringe ao que as pessoas 'pensam ou conhecem', mas ao que 'faz sentido' para elas, porque pode estar no âmbito dos costumes, uma espécie de segunda natureza, incorporada em hábitos, 'um comportamento inercial, induzido e habitual.’ (apud Thompson, 1993, p. 2).
Se é assim, a saúde e o sofrimento ou transtorno psíquico devem ser pensados também como resultados da história dessas interseções. Portanto, resgatar aspectos do trabalho para a compreensão dos processos subjetivos e dos processos de adoecimento psíquico do trabalhador não significa isolar, dos demais aspectos de sua história de vida, seu percurso profissional anterior e sua situação imediata de trabalho.
Ao contrário, o que se busca é a articulação das várias histórias que o trabalhador apresenta para dizer da dimensão do seu sofrimento – tanto aquelas qualificadas como objetivas, que podem ser submetidas ao crivo da observação ou verificação, como também as que entendemos como subjetivas, e que são de difícil apreensão, não se oferecendo facilmente à nossa compreensão, por estarem relacionadas às representações e aos sentidos que o trabalhador lhes empresta.
O que está em questão é, ao fim, a concretude da realidade e do sofrimento experimentados pelos trabalhadores, mesmo porque a diversidade das situações vividas cotidianamente por eles "não respeita as fronteiras teórico metodológicas" (Sato & Bernardo, 2005, p. 3), exigindo, portanto, diálogo crítico e constante entre as várias disciplinas que buscam compreender o problema. Para além destes aspectos, estão questões concretas e práticas que os atingem diretamente e que aguardam respostas também concretas e práticas da parte dos pesquisadores e profissionais de saúde.
A relação mente X corpo são fundamentais ao equilíbrio, pois as emoções podem ser meios que podem ocasionar o surgimento de algumas doenças, a partir do momento em que estão afetadas, desequilibradas, alteradas, proporcionando assim sintomas no corpo: “o corpo é quem paga”1.
De acordo com Rabelo (1998), a passagem da doença à saúde nos rituais utilizados pelos espaços religiosos, “pode vir a corresponder a uma reorientação mais completa do comportamento do doente, na medida em que transforma a perspectiva pela qual este percebe seu mundo e relaciona-se com outros” (p. 47). Segundo esta autora, alguns estudos têm se voltado a compreender sobre os rituais utilizados por esses espaços: “os doentes são conduzidos a uma reorganização da sua experiência no mundo” (p. 47). A cura pode ser entendida como um processo de “persuasão que envolve a construção de um novo mundo fenomenológico” (p. 49). Assim, o doente redireciona a sua atenção a novos aspectos relacionados a sua vida e passa a perceber a sua experiência de vida a partir de um novo sentido. As terapias religiosas proporcionam aos seus adeptos respostas para algumas aflições porque estão mais próximas da realidade deles, e promovem a aceitação e compreensão de seus problemas quando não conseguem resolvê-los, na medida em que oferecem ajuda explicitamente para os diferentes problemas do cotidiano individual. Essas terapias segundo Rabelo (1993), não implicam o abandono do tratamento médico, pois o que ocorre é uma divisão de responsabilidades, onde uma intervém onde a outra não é capaz, e vice-versa. Segundo Parker (1996: 274), de uma forma geral e com suas distinções, todas as práticas religiosas “... apontam para uma eficácia simbólica em função das necessidades básicas do presente”. De acordo com Spiegel (1997), as terapias ajudam as pessoas a entenderem melhor os seus sintomas físicos como expressão de seus conflitos emocionais, aprendendo a enfrentar o estresse e a desenvolver estratégias saudáveis para lidar com ele. Segundo esses autores, as crenças religiosas são fundamentais na luta contra doenças graves como o câncer, e ajudam a encontrar um significado para a doença e como lidar com ela. “O apoio social de uma comunidade religiosa, por exemplo, pode ser um fator importante na produção de um efeito positivo da espiritualidade na luta contra o câncer” (1997: 81)
2.2 Fatores Humanos
O termo “fator humano” tem sido objeto de um vasto número de diferentes interpretações e definições, possuindo, inclusive, correlações com os termos “engenharia de fatores humanos” e “ergonomia”. Na tentativa de estabelecer uma definição padronizada para o termo, LICHT, POLZELLA E BOFF (1990) realizaram uma pesquisa que analisou 73 diferentes referências bibliográficas e identificou a existência de uma história de debate sobre a compatibilidade destes três termos. Alguns autores consideram a possibilidade de utilização dos mesmos de forma intercambiável, enquanto outros apresentam certas diferenças entre os termos, muitas delas consideradas como sutis. O estudo identificou que “a terminologia utilizada para descrever o termo fator humano é muito variada” (p.5) e não pôde ser conclusivo, na busca de uma definição que pudesse ser padronizada, mantendo acesa a discussão, entre os especialistas das várias disciplinas, em relação à utilização dos termos fator humano, engenharia de fator humano e ergonomia como forma de refletir a interação do homem com o ambiente de trabalho.
Este trabalho adota a proposta do Health and Safety Executive (HSE), onde, o termo “fator humano” é utilizado para cobrir um largo conjunto de questões. Estas incluem as capacidades físicas, mentais e perceptivas das pessoas e as interações dos indivíduos com o seu trabalho e meio ambiente onde este trabalho é desenvolvido, a influência do projeto dos sistemas e equipamentos sobre o desempenho humano, e sobretudo, as características organizacionais os quais influenciam a segurança relacionada ao comportamento no trabalho. (HSE, 1991, p. 2). Com base neste conceito, o HSE utiliza a seguinte definição: fatores humanos se referem aos fatores ambientais, organizacionais e do trabalho, e as características individuais e humanas as quais influenciam no comportamento no trabalho de forma a poder afetar a segurança e a saúde.
A busca da excelência em SMS tornou-se parte irrevogável da estratégia empresarial que busca a sustentabilidade do negócio. Neste aspecto, os fatores humanos compõem uma parte indissociável deste processo pois, em maior ou menor grau estará sempre presente e terá contribuição decisiva para o sucesso ou o fracasso desta estratégia. Verifica-se que as organizações têm buscado o aprimoramento na gestão de processos e na gestão de pessoas, mas considerando a impossibilidade de dissociação entre ambos, as organizações deveriam estar buscando o aprimoramento da gestão de “processos com pessoas” e não de “processos e pessoas”.
Os sistemas de gestão e os fatores humanos não são concorrentes, mas sim complementares pois, qualquer sistema produtivo, por mais simples ou complexo, manual ou automatizado, será sempre em maior ou menor grau, projetado, operado e mantido por seres humanos e, independente do seu grau de complexidade e automação, estará sempre inserido em um sistema organizacional maior gerenciado por seres humanos. Por isso, um sistema de gestão será tanto mais eficaz, quanto mais objetivamente considerar a importância das pessoas.
O entendimento de que a incorporação dos fatores humanos aos processos é a forma pela qual será possível atingir um novo salto de qualidade no desempenho em SMS neste início de século, representa uma clara demonstração de que novamente a indústria coloca-se em uma posição de vanguarda. Por isso, o “Programa Educacional” apresentada neste trabalho, preenche uma lacuna nas discussões ora desenvolvidas sobre o tema. A sua incorporação aos Sistemas de Gestão de SMS, fortalece a implementação por fazê-la sobre uma base sólida e estruturada, capaz de permitir ao mesmo tempo, minimização dos esforços e a maximização dos resultados.
O mapa psicológico mais satisfatório e esclarecedor que se conhece até agora não é nenhum dos propostos até hoje no campo da psicologia acadêmica, mas um que nos chegou de uma tradição esotérica asiática, que é a aplicação do Eneagrama ao estudo da personalidade.
Foi Gurdjieff quem introduziu o Eneagrama no Ocidente, e seu pensamento a respeito pode ser algo encontrado em um livro muito interessante de um jornalista russo da época – Ouspensky – intitulado “Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido - Em Busca do Milagroso.”
As influências de Gurdjieff podem ser encontradas nas aplicações psicológicas do Eneagrama de um boliviano em Arica: Oscar Ichazo, que sob o nome de protoanálise apresentou ante o colégio de psicólogos do Chile, em 1969, um conjunto de noções nas quais se pode reconhecer a continuidade com uma tradição cristã muito antiga, da qual a doutrina dos pecados capitais é um eco; há muitos séculos o que constituiu uma psicologia prática no tempo dos País do deserto e hoje em dia sobrevive como dogma da Igreja, perdeu-se como conhecimento vivo no Ocidente.
Em nossos dias podemos reformular a doutrina dos pecados capitais dizendo que, por termos todos sofrido durante a infância em maior ou menor medida uma frustração amorosa, desenvolvemos uma maneira específica de tentar conseguir o que nos faltou; e assim, por exemplo, desenvolvemos uma paixão pelo aplauso, pelo conhecimento, pela intensidade, etc.
Aprendemos muitas manobras para conseguir amor, e não existe melhor mapa para entender a variedade destas manobras do que o Eneagrama, coerente com aquele de que se utilizava Dante ao classificar os pecadores no inferno ou no purgatório. Em alguns a dinâmica fundamental é o orgulho, em outros a inveja, a angustia, o medo, etc., e existem psicólogos que se interessaram principalmente por uma ou outra destas emoções básicas.
Porém o Eneagrama permite ter uma visão global dos tipos humanos e se começa a perceber que não existe uma psicologia, mas nove; cada uma com sua loucura implícita, com suas idéias disfuncionais e com suas necessidades particulares exageradas.
“Eu vim para que tenham vida. Vida em abundância.”
(Jesus Cristo)
Os caminhos espirituais, os caminhos dos Monges, Faquires e Yoguins, nada mais são do que escolas aonde os alunos recebem um treinamento especial para desenvolverem seu par e adquirir um novo saber. Existem diferenças entre as linguagens, mas os princípios são os mesmos. Os alunos dessas escolas são submetidos a condições de vida que permitam a eles realizar algum tipo de Trabalho Sobre Si Mesmo, com visitas ao desenvolvimento interior.
Esses caminhos talvez sejam adequados para determinados tipos de pessoas, mas não para todas. Há neles algo de artificial ao qual a maioria das pessoas não poderia se adaptar. Se os princípios gerais da verdadeira evolução interior estivessem certos, deveria haver um modo de aplicá-los diretamente à vida, nas condições naturais da vida.
Entre os princípios conhecidos pelas escolas tradicionais, existem aqueles essenciais, que depois de compreendidos podem permitir trilhar o Caminho nas condições naturais da vida.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.”
(Sócrates)
O primeiro cálculo no caminho do desenvolvimento é que não sabemos quem somos. Estamos cheios de idéias erradas a nosso respeito. Pensamos que somos muitas coisas que na verdade não somos.
Na verdade, tudo o que pensamos a nosso próprio respeito, tudo o que pensamos que somos, bem poderia ser chamado de uma Falsa Personalidade. A falsa personalidade nos acompanha em tudo, se apossa de tudo o que temos. Nós a chamamos de “eu”, e, por isso, ela não dá espaço para o nosso verdadeiro Eu. É necessário que a destruamos para podermos enxergar a verdade. Como destruí-la? Primeiro, observando-a. Tornando-se um espectador de si mesmo, como alguém que assistisse um filme, com pipoca e tudo. É preciso vê-la de fora, ridicularizá-la, rir dela. Mas ver-se de fora é ainda tarefa impossível para nós. Temos que começar com pequenas observações, baseadas nos princípios psicológicos corretos. É preciso observar, pouco a pouco, a falsa personalidade, e acumular constatações. Como num trabalho de espionagem, colher informações sobre o inimigo.
Nós nunca fizemos isso antes. Nunca nos observamos. Apenas tentamos, às vezes, analisar nosso comportamento em algum momento do passado ou fazer planos para como agir no futuro. É isso que deve mudar. A pessoa deve aprender a Se Observar no exato momento em que faz alguma coisa, ou tem algum pensamento, elevado ou tolo, ou se empolga com algo ou começa a ficar irritado. É nesses momentos que devemos nos espionar. No início, não conseguiremos fazer isso por muito tempo. Só vai dar tempo, por assim dizer, de bater uma foto de si mesmo. É por aí que devemos começar. Se tentarmos fazer isso várias vezes, se acumularmos o maior número possível dessas fotos, começaremos a descobrir coisas sobre nós mesmos que jamais havíamos imaginado. Esse é o primeiro passo no caminho para a mudança de ser: Observar-se.
Para compreender a situação atual do nosso ser, é necessário compreendermos que não possuímos um “eu” único permanente. Não temos um “eu” que esteja no controle. Ao invés disso temos Vários Eu’s, vários pequenos eu’s sem um comando central. Isso ocorre porque damos o nome de “eu” a qualquer pequeno desejo, opinião, ou sentimento que acidentalmente nos vem á mente. Dizemos “eu gosto disso”, e na verdade é apenas uma pequena parte de nós que está expressando, e, no minuto seguinte, expressamos opinião exatamente oposta. E não nos damos conta. Nunca nos damos conta do quanto somos contraditórios. Dizemos “eu amo esta pessoa”, mas todas as nossas atitudes dizem o oposto. Isso ocorre porque temos vários eu’s. Um desses eu’s assume um compromisso e se propõe a cumpri-lo, mas quem terá que cumprir o compromisso será um outro eu que nada tem a ver com isso e não desejava de forma alguma cumprir tal compromisso. Esses eu’s se sucedem aleatoriamente, não há ninguém no controle. É assim que temos vivido.
A mudança do nosso ser significará a formação de Um Eu Único E Permanente, com uma Vontade verdadeira, capaz de seguir uma direção sem se desviar, uma Consciência, no verdadeiro sentido dessa palavra e muitas outras coisas.
Atualmente, somos uma multidão de eu’s que não seguem direção alguma. A falsa personalidade é um grupo desses eu’s que, de certa forma ocupa o lugar do nosso verdadeiro. Na nossa mente, a falsa personalidade está ligada justamente ao conceito que temos, ou à imagem que temos de “eu”. Dessa forma, ela usurpou e ocupa o trono que na verdade pertence ao verdadeiro eu. Os outros eu’s, nossas predileções, gostos e aversões, tudo aquilo que aprendemos ao longo da vida forma a nossa Personalidade. A personalidade também ocupa hoje um lugar indevido, pois, como não há um comando central, somos arrastados, para um lado e para o outro, por cada pequeno desejo, gosto ou aversão. Mas, quando começarmos a formar um Eu permanente dentro de nós, e este começar a assumir o controle, a personalidade naturalmente se subordinará a ele, e então será muito útil, pois ela é responsável, em grande parte, pelo sabor da nossa vida, ou seja, ela é o cenário onde Eu pode atuar, e o estímulo para que o Eu possa crescer.
Seguir esse caminho sozinho levaria, na mais otimista das hipóteses, ao auto-engano, e, na pior, à loucura. Seria como caminhar sozinho numa estrada escura. Cada pessoa que está junto nesse caminho é um irmão, um mestre, e um amigo. Devemos ser gratos pela existência dessas pessoas e reavivar continuamente essa gratidão.
Neste caminho, apesar de não precisarmos de instituições, precisamos de uma Escola, isto é, de um grupo de pessoas que compartilhem dessas idéias e trabalhem conosco, nos falem, nos corrijam, e nos ouçam. Um grupo de pessoas dispostas a empreenderem um trabalho para a mudança de seu próprio ser, quem sejam sinceras consigo mesmas e que encontrem as idéias certas e as pessoas certas, têm chances de obter resultados reais. Se essas hipóteses não forem satisfeitas, dificilmente se poderá obter algum resultado concreto.
Uma outra característica da nossa situação atual é que não possuímos vontade. A vida, na escala do indivíduo, é caótica. O homem vive imerso nesse caos e é levado pelas forças exteriores a diferentes direções, como uma molécula que, em seu movimento desordenado, é lançada continuamente em diferentes direções pelas colisões exteriores. Mas o homem tem a ilusão de que sempre está seguindo alguma direção. Pura ilusão. Na verdade, a vida comum não nos leva a parte alguma. Vivemos num mundo caótico, e somos controlados por forças mecânicas. Estamos presos e não nos damos conta disso. Estamos dormindo, enquanto nossa vida está passando.
O que ocorre é que quando começamos a despertar e a tentar seguir uma direção, todas as forças mecânicas continuam atuando, colidindo conosco e nos lançando em diversas direções, sem que tenhamos força para resistir.
O primeiro passo para sair de tal situação é começar a distinguir a nossa vida interior do mundo exterior. Isso porque nessa vida interior é igualmente caótica e corrobora com o resto do mundo para nos manter nesse eterno movimento de colisão e desvio, nesse eterno torpor.
É preciso encontrar dentro de si um ponto de partida. Encontrar dentro de si um lugar onde você tenha algum poder e começar a exercer esse poder. Fazer desse lugar sua academia, sua torre de observação, e, por fim, seu quartel general.
Liberdade pressupõe vontade. Para Ter liberdade, precisaremos adquirir vontade, pois não a temos, no real sentido da palavra. O desejo de adquirir vontade se formará em nós à medida em que formos nos apercebendo da nossa situação atual, e começarmos a considerá-la um desperdício de vida, a sofrer profundamente essa realidade, sentir na pele a dor da inexistência. Então nascerá em nós o desejo de mudar, de trabalhar sobre si mesmo. E a vontade será um resultado desse trabalho. Enquanto pensarmos que possuímos vontade, não poderemos fazer os esforços necessários para obtê-la. Mas, quando nos damos conta da nossa atual situação, podemos nos dispor a trabalhar para sairmos dela. Esse trabalho será diário. É o trabalho de uma vida inteira, o sentido de uma vida. E quem encontrar um sentido real para sua vida terá encontrado um grande tesouro.
Então, como começar?
Começamos tentando controlar o nosso estado de consciência. Tentando manter a nossa consciência em seu mais alto nível possível, tentado “ficar desperto”, isto é, atento ao aqui e agora, conscientes do que sabemos sobre a vida, e sobre nós mesmos, observando-nos a nós mesmos, não nos deixando levar para a condição de torpor e mecanicidade que nós é usual. Então, se qualquer pessoa tentar fazer isso, descobrirá que não consegue. Sua atenção é irremediavelmente arrastada para longe dessas idéias, Se identifica com qualquer pequena coisa, pensamento, sentimento ou sensação, não consegue separar as coisas dela mesma. Isso ocorre porque ninguem está acostumado a ficar desperto. Nossos eu’s não querem despertar. Eles sequer sabem o que é isso. Nunca experimentaram o sabor do despertar. É preciso persuadi-los, fazê-los, um a um, experimentar esse novo estado. Isso se faz tentando ficar desperto nas mais variadas situações da vida. Não há outro modo. É justamente essa luta persistente para ficar desperto que irá fortalecer a vontade.
Agora, o desejo de continuar esse trabalho deverá ser alimentado por nós mesmos. Ninguém pode fazer isso por nós. O acaso não o fará, porque o acaso é caótico e somente nos levará para o sono. Somos nós que deveremos fazer um esforço para fortalecer o desejo de ficar desperto. E isso é algo inédito na vida. Até hoje, os desejos que acidentalmente nos chegaram à mente conduziram nossas ações. Agora, teremos que fazer nosso próprio desejo.
Então, quando tentamos ficar aqui e agora, despertos, e conscientes de nós mesmos, descobrimos que há grandes obstáculos. Descobrimos que nosso nível de consciência é muito mais baixo do que imaginamos. Vivemos identificados. Cada pensamento, sentimento, opinião, idéia, desejo ou sensação, gera em nós identificação. Descobrimos que não temos liberdade interior. Somos arrastados como boçais aonde quer que queiram nos levar. Mas ninguém vai nos levar a parte alguma, e sim as circunstâncias da vida, e a vida é caótica. É preciso compreender essa situação, Ter horror a ela, desejar sair dela e encontrar a verdade e a vida, a verdadeira vida. Isso irá gerar em nós a disposição para fazer esforços, para lutar contra a identificação. A identificação é o grande obstáculo que encontramos no caminho para a consciência e, conseqüentemente, para uma vida mais plena.
“Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa.” (Mateus 24:43)
“Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão.” (2 Pedro 3:10)
A identificação se revela em manifestações mecânicas, grosseiras e incontroladas. As principais dessas manifestações são a imaginação, o falatório vazio, e as emoções negativas. Uma boa maneira para começar a lutar contra a identificação é tentar surpreender, observar e deter essas manifestações. Logo descobriremos que toda nossa vida é preenchida, absorvida e desperdiçada nessas três manifestações. Isso precisa mudar, se desejamos evoluir o nosso ser. A luta contra a imaginação, o falatório vazio e as emoções negativas é o primeiro trabalho mais concreto que podemos fazer. Esse trabalho nos tornará mais despertos. Com o tempo, essas manifestações tornar-se-ão grosseiras demais para passarem despercebidas. Serão como um desastrado tentando entrar numa casa sem acordar o vigia. Elas nos mostrarão o quanto somos mecânicos, e, assim, nos tornarão mais sensíveis, mais atentos, com a condição de que nos lembremos de detê-las. Se nos esforçamos realmente, em pouco tempo já não poderemos “dormir” tão tranqüilamente. E esses esforços servirão para fortalecer nossa vontade. Nesse ensinamento, trabalhamos em várias frentes ao mesmo tempo. As coisas estão interligadas, de maneira que um trabalho corretamente realizado produz resultados em diversas áreas. Isso só é possível porque conhecemos esses princípios especiais expostos aqui. É nisso que se baseiam nossas reais possibilidades de mudança.
O nosso corpo é como uma fábrica. Uma indústria química aonde chegam determinadas substâncias, onde ocorrem determinados processos nos quais as substâncias existentes, tanto as que nos vêm do exterior quanto as que já possuímos, são combinadas e dessa forma transformadas em outras, para atender a alguma finalidade. A fisiologia ordinária já conhece alguns desses processos e dessas substâncias, mas não todas. Há substâncias mais sutis em nós que a ciência atual desconhece.
Tudo em nós é material e tudo de relaciona. Os processos estão todos interligados. O alimento que comemos, o ar que respiramos e todos os subprodutos gerados pela digestão e pela respiração são substâncias, que são requeridas para alguma função ou são um subproduto de alguma transformação química. Ocorre que também nossos pensamentos, nossas emoções, as impressões que nos chegam do mundo exterior e são captadas pelos sentidos, são substâncias que se relacionam com as outras substâncias presentes no nosso organismo. A nossa compreensão das coisas se tornará muito mais unificada se compreendermos que tudo é material.
Se temos um determinado pensamento, isso significa que alguma substância é produzida no nosso cérebro, lançada na corrente sangüínea e levada a todas as células do nosso corpo. Isso certamente provocará uma reação qualquer que se manifestará como uma emoção, uma postura corporal que assumimos induzirá pensamentos, emoções e outros fenômenos. É nesse princípio que se baseiam muitos dos fenômenos considerados sobrenaturais e milagrosos. Nisso também se fundamentam as várias técnicas de meditação, oração, terapias, etc.
O nosso desenvolvimento deverá ser, portanto, o resultado de um trabalho integrado sobre as diversas partes do nosso corpo, de forma que todas se desenvolvam harmoniosamente. Se uma área ficar subdesenvolvida, isso deterá necessariamente o desenvolvimento das outras áreas e, por conseguinte, do nosso ser como um todo.
O trabalho do nosso corpo está dividido em diversas funções, que trabalham utilizando diferentes substâncias e em diferentes velocidades. Essas funções são a função intelectual, a função emocional, a função motora, a função instintiva e a função sexual. Essas funções são controladas por centros, correspondentes a cada uma delas, a saber: o centro intelectual, o centro emocional, o centro motor, o centro instintivo e o centro sexual. Esses centros existem de fato em nós, não são apenas uma divisão arbitrária, e seu estudo e observação será de suma importância para o conhecimento e a observação de si, e, conseqüentemente, para o trabalho sobre si.
O centro intelectual é responsável pelos pensamentos, o raciocínio, as associações, a imaginação, etc. O centro emocional é responsável pelas emoções, sentimentos, etc. O centro motor é responsável pelos nossos movimentos. O centro instintivo é responsável pelo trabalho interno do nosso organismo, a saber: a digestão, a respiração, a circulação, o trabalho dos órgãos e glândulas, as defesas do corpo, etc. O centro sexual é responsável pela função sexual.
O que ocorre na nossa situação atual é que essas funções encontram-se misturadas, trabalhando de forma inadequada e sem controle. Não há um comando central. A falsa personalidade é apenas um conjunto de mentiras, não um comando central. O homem vive identificado, quase inconsciente e o resultado é que as nossas funções trabalham desordenadamente e produzem apenas manifestações inteiramente inúteis como a imaginação, a tagarelice perpétua, as emoções negativas e a expressão das emoções negativas, a tensão muscular inútil, a mentira, o interesse dedicado a coisas e pessoas com quem nada temos a ver, uma atenção errante e uma capacidade de concentração nula.
Compreenda que não há qualquer utilidade nesse trabalho desordenado do corpo, e, o que é pior, esse trabalho consome toda a energia que poderíamos empregar para tentar despertar e nos mantém longe de qualquer possibilidade de enxergar a verdade, longe de qualquer contato com a realidade.
A imaginação, por exemplo, mantém o nosso pensamento fora do nosso controle, sempre distante da realidade. Não me refiro, é claro, ao pensamento abstrato ou à capacidade de pensar em diferentes categorias, mas ao pensamento sem controle que preenche toda nossa vida interior quase que indefinidamente.
E o falatório vazio? Quando estamos sós o próprio pensamento assume a forma de um falatório infindável. E quando estamos com alguém falamos, falamos, falamos, porque não podemos deixar de falar. Cada pensamento que nos vem à mente, cada associação acidental precisa virar um comentário. Em tudo que vemos há algo que mereça uma crítica ou um elogio. Em tudo que vemos ou ouvimos há algo que nos remete imediatamente a algum outro lugar, ao passado ou ao futuro. Nunca, nunca na nossa vida estamos aqui, e agora. Além disso, quando surge em nós uma emoção negativa, não podemos deixar de expressá-la. É quase um dever. Parece-nos importantíssimo expressar nossas emoções negativas, e, no entanto, não há nisso utilidade alguma.
E as emoções negativas impregnam e inutilizam quase todas as impressões que recebemos, e desse modo, impedem-nos de ver as coisas tais como são. E, além disso, consomem toda a energia de que dispomos. É preciso que aprendamos a ser neutros em relação às impressões do dia-a-dia. Como poderemos querer ser alguma coisa, se tudo que vemos nos incomoda, nos entristece. Tudo é mais forte que nós, tudo nos arrasta e, sem o perceber, já começamos a criticar e a lamentar, a imaginar coisas ruins e a nos preocupar.
Dessa forma, as manifestações do trabalho desordenado dos nossos centros, resultado da identificação, ocorrem todas juntas, se relacionam, se estimulam. O nosso poder está em conhecê-las, conhecer suas causas, e poder lutar contra todas ao mesmo tempo. Assim, a luta contra uma ajudará a diminuir a outra, nos tornará mais despertos e nos dará material para a observação de nós mesmos, de modo que acumularemos constatações sobre nós mesmos.
Trabalhamos, portanto, ordinariamente, com esses cinco centros. Mas o centro intelectual e o centro emocional são, na realidade esboços, como imitações mal feitas de dois centros superiores, que o homem não conhece.: o centro intelectual superior e o centro emocional superior. Os centros comuns precisarão ter seu trabalho reorganizado, muito bem controlado e melhorado para que possamos ter acesso aos centros superiores. Na nossa atual situação, em que os centros encontram-se fora do nosso controle e trabalhando num nível bem inferior ao que poderiam, não podemos sequer pensar em ter controle sobre os centros superiores. Isso está muito distante de nós.
Além disso, o trabalho de nossa fábrica química ainda tão abaixo do que poderia, que não temos em nós as substâncias refinadas que são requeridas para o funcionamento dos centros superiores. Esse trabalho deverá passar por uma completa reestruturação, para que os centros superiores possam entrar em ação.
Essa reestruturação será gradativa e compreenderá a formação de um eu permanente, que pouco a pouco, assumirá o controle sobre os centros e crescerá em vontade e consciência. Não há vantagem, do ponto de vista deste ensinamento, na criação de leis e restrições exteriores, como nos caminhos tradicionais. Aqui, o homem é apresentado a algumas idéias e deverá, a partir daí, fazer suas próprias observações e chegar a suas próprias constatações.
Neste ensinamento, as constatações que nós mesmos fazemos são de fundamental importância. Com elas é que construiremos a nossa própria compreensão das coisas, o nosso próprio sistema. E somente se tivermos a nossa própria compreensão é que poderemos colocar as idéias em prática e obter resultados satisfatórios. Nos caminhos tradicionais, o homem é ensinado a obedecer, a acreditar, a imitar simplesmente o seu mestre. Aqui o mais importante para o homem é ser sincero consigo mesmo. Devemos, neste caminho, aprender a sermos os nossos próprios mestres, pois, ainda que nos ensinem muitas coisas, cedo ou tarde teremos que aprender a caminhar com nossas próprias pernas. Esse é o caminho do homem astuto.
E para compreender bem uma idéia, temos que aprender a ouvir. Ouvir, no verdadeiro sentido da palavra, significa ter a mente limpa. Aproximar-se da idéia sem dizer sim ou não a ela, e assim permitir que ela interaja com seus pensamentos, suas emoções, com suas entranhas, para que, no seu ser, a verdade possa encontrar seu lugar e a mentira possa se dissipar.
Duas pessoas que discutem entre si simplesmente não podem se ouvir nem se ver. Estão identificadas, sem nenhuma chance de compreensão. A nossa forma de pensar usual é semelhante à de pessoas que discutem. Precisamos reformulá-la, aprender a pensar acima do sim e do não, acima das dualidades, para podermos nos aproximar da verdade, onde não há dualidade alguma.
Este ensinamento é, portanto, para aqueles que amam a verdade, que desejam conhecer e viver na verdade, que tenham dentro de si uma repulsa à mentira e um desejo da verdade que seja forte o bastante para conduzi-los numa determinada direção, a despeito de toda resistência, inércia e oposição das outras partes de si mesmos. Essas partes só desejam continuar dormindo. Esses eu’s precisarão ser despertados por grandes e prolongados esforços. Mas quantos homens há que estejam interessados na verdade? E quantas são as mulheres que estão dispostas a fazer os esforços necessários neste caminho?
De fato, há poucos homens e mulheres assim. A maioria das pessoas não possuem dentro de si um ponto de partida. Todos os seus eu’s querem viver na ilusão e no sono, ou os eu’s que querem despertar são fracos demais até para fazer os primeiros esforços. As pessoas, mesmo na vida comum, estão em diferentes condições, e possuem diferentes possibilidades.
Agora, o ponto de partida para um homem querer despertar, e o que o diferencia da maioria, é um conjunto de interesses e constatações que ele acumulou ao longo da vida e que se juntaram formando um centro magnético, isto é, um núcleo suficientemente forte para vencer a resistência inicial e levar o homem a dar o primeiro ou os primeiros passos.
O centro magnético é um grupo de eu’s que se torna, por assim dizer, um solo fértil para a verdade e para a semente do verdadeiro eu. Um homem que não tenha formado um centro magnético não se interessará por essas idéias, ou seu interesse não será forte o bastante para começar o caminho e chegar aos primeiros resultados.
O centro magnético se forma a partir das reflexões do homem ao longo de sua vida. Essas reflexões podem ser alimentadas pelas idéias encontradas em livros, obras de arte, trabalhos de ciência, filosofia e psicologia, nas conversas com outras pessoas, nas religiões, na música, etc. Quando as constatações advindas dessas reflexões começam a se acumular no homem, elas começam a atrair idéias similares, e pessoas com idéias similares. Uma idéia geral da vida começa a tomar forma, uma busca do sentido e do sabor da vida vai se fortalecendo, e, tudo isso, com muita sorte, pode levar o homem a encontrar um caminho real para o desenvolvimento de si, e pessoas com quem poderá trabalhar, aprender e ensinar.
Depois que o homem encontra seu caminho e começa a trilhá-lo, as coisas se modificam. Uma enxurrada de novas constatações começam a chegar, e estas terão que ser acompanhadas de uma certa prática, de certos esforços. Isso porque o saber de um homem só poderá se desenvolver se o seu ser também se desenvolver. O ser e o saber só poderão crescer juntos. E o crescimento do ser significa a aquisição de consciência e vontade. As dificuldades do caminho serão crescentes e o homem deverá estar pronto para elas. Começa a responsabilidade. E daí em diante, devemos cuidar pessoalmente de dar um destino adequado a cada nova constatação, pois já não devemos contar com a sorte. Em outras palavras, deveremos usar todas essas novas constatações para aumentar o desejo de ficar desperto. Do contrário, tenderemos novamente e sempre ao sono e o trabalho se deterá. Nenhum trabalho é possível no sono. Devemos, pois, ligar os fatos, as constatações, as idéias, mantendo-as acesas na mente o melhor que puder, através mesmo de um esforço de vontade. Fazendo isso sempre e insistentemente o trabalho poderá prosseguir. Ninguém pode fazer isso por nós. O mesmo acaso que fez encontrar o caminho pode fazer perdê-lo. É necessário, pois, trabalhar, mantendo sempre em mente uma visão do todo, de tudo que sabemos, do sentido e do propósito que um dia fizeram você ter vontade de despertar.
O centro magnético faz parte da nossa personalidade. A personalidade é formada por tudo aquilo que aprendemos ao longo da vida, ou seja, tudo aquilo que não nos é inato. Nossos interesses e gostos, desde que não sejam inatos, nossas teorias, nossas idéias, crenças e convicções, nossas máscaras, nossos muitos eu’s, nossa profissão, tudo isso forma a nossa personalidade. A personalidade será sempre muito útil, desde que aprendamos a colocá-la em seu devido lugar, desde que, em nosso íntimo, aprendamos a separar a personalidade do nosso verdadeiro eu.
Além da personalidade, possuímos a essência, que é a parte inata de nós mesmos, nossa constituição, nosso tipo, determinando por fatores genéticos, astrais, etc. Os cinco centros pertencem à essência. A essência é verdadeiramente a parte mais profunda de nós. O que ocorre, porém, é que, desde a infância, a educação que recebemos faz atrofiar a essência e colocar em seu lugar a personalidade, e, de quebra, esse processo faz surgir a falsa personalidade, esta sim inútil porque é falsa e daí decorre toda confusão da vida interior do homem.
O trabalho sobre si, deste ponto de vista, significará a identificação e a distinção entre a personalidade e a falsa personalidade, o aniquilamento desta e a realocação daquela, a descoberta da essência e o seu desenvolvimento. A nossa essência está, portanto, num nível muito baixo de desenvolvimento e deverá ser desenvolvida para ocupar o lugar que lhe cabe. Enquanto isso, criamos um “eu substituto”, ligado às idéias deste ensinamento, para coordenar os trabalhos, adquirir o que for necessário e realizar a mudança do ser.
Os adultos que conhecemos são na verdade crianças crescidas. Suas essências são de crianças, pois não se desenvolveram. Somente um prolongado trabalho sobre si mesmo, conduzido na direção correta, poderá criar um homem, ou uma mulher, no verdadeiro sentido da palavra. Nisso, não podemos esperar pelo destino. O que pudermos conseguir será fruto do nosso trabalho e será nossa própria recompensa.
Neste contexto, pecado, para nós, é quando fazemos algo que sabemos ser contrário à nossa meta, que nos afasta de nossa meta. Pecado, portanto, pressupõe uma meta, um caminho, e uma direção. Para quem vive sem meta, caminho ou direção, não pode haver pecado, desse ponto de vista.
Ora, se o que queremos é uma vida abundante, cheia de impressões vivas e novas, cheia de significado e Saúde, então, todas as vezes que deliberadamente desperdiçamos a nossa vida, um segundo que seja, estamos cometendo um pecado. Há muitas formas de desperdiçar vida. Todas as vezes que nos permitimos adormecer quando poderíamos ter feito algo para ficarmos despertos, estamos pecando contra nós mesmos, e a vida que deixamos passar, que perdemos assim, não poderá voltar. Esse é o castigo, ou seja, a conseqüência do que fizemos com nós mesmos.
Sempre não, mas, às vezes, temos escolha, alguma escolha. E os resultados que obtemos dependerão, nesses casos, da escolha que fizemos. E, quanto mais caminharmos, mais conhecimento e vontade teremos e, dessa forma, maiores possibilidades de escolha e, conseqüentemente, mais responsabilidade.
Esse caminho é para aqueles que não têm medo da responsabilidade, ou, em todo caso, que compreendem a necessidade de se ter uma crescente responsabilidade. O homem comum não tem responsabilidade alguma.
Tudo simplesmente lhe acontece. Ele não tem meta nem direção, é simplesmente arrastado de um lado a outro pelas influências exteriores, que dão origem a seus desejos, que por sua vez o controlam. No nosso caso, nossas ações deverão cada vez mais ser controladas pela consciência que gradativamente iremos adquirir. Esta, baseada num conhecimento também crescente, poderá guiar nossos passos numa direção definida. Desse modo, pecado e responsabilidade somente podem existir para aqueles que estão no caminho.
As palavras de Jesus Cristo, que foram interpretadas erroneamente como leis ou regras de conduta moral para todos os homens, eram, na verdade, parte de um sistema de desenvolvimento e trabalho sobre si, destinado a seus discípulos, e somente têm sentido e utilidade no contexto desse sistema, e para aqueles que o conheciam.
A tentativa de universalizar as palavras de Jesus e, pior ainda, de tentar impô-las a todos e pela força, teve conseqüências negativas, não apenas em períodos destacadas da história, mas em toda a história. A mensagem de Jesus para as multidões era um convite: “É chegado o Reino dos Céus! Venham, venham todos que queiram! As portas estão abertas! Venham os cegos, surdos, pobres e pecadores, a todos é dada a chance”. Mas ele sabia que poucos poderiam aceitar esse convite, e chegou a afirmar que “muitos são chamados, mas pouco os escolhidos”.
Neste caminho, temos uma obrigação e não devemos esquecer dela: aumentar a nossa vontade de caminhar. Se não o fizermos diariamente, constantemente, cairemos no sono e o tempo passará e poderemos perder a oportunidade que tínhamos. Temos que criar constantemente novas associações no nosso intelecto, para que sempre haja algo que nos remeta para a nossa meta e nos faça despertar. A sensação é exatamente esta: despertar. Quando nos lembramos de nossa meta e de tudo que está ligado a ela é como se nos lembrássemos de nós mesmos, como se acordássemos de um sonho e tomássemos consciência, olhássemos ao redor e ratificássemos mentalmente quem nós somos e onde estamos. Deve-se lembrar-se de si mesmo, sempre e em todo lugar. Devemos nos acostumar a viver desperto. Fazer isso todo dia e sempre até que o sono se torne incômodo para nós. Devemos criar novos despertadores para as diferentes situações da vida, até mesmo para aquelas em que é particularmente difícil ficar acordado. Isso de fato nos tornará mais conscientes, mais atentos, mais sensíveis às impressões, e tiraremos assim, da vida, o melhor que ela tem para nos oferecer.
É importante que sejamos sérios em relação a essas idéias, que sejamos sérios, respeitosos em relação à vida. A atitude correta é importante para que possamos fazer os esforços necessários. Na nossa vida, em geral, tudo acontece. Não estamos acostumados a fazer qualquer tipo de esforço. Nossos desejos nos empurram de um lado para o outro. Nossas identificações nos mantêm entorpecidos o dia todo. Temos que criar em relação ao nosso trabalho interior uma atitude que nunca tivemos por nada na vida. Uma atitude permanente, que esteja acima de humores e estados de ânimo. Cada vez mais acima. Somente criando algo permanente em nós, algo como um centro de gravidade permanente, é que teremos uma base para construir um eu permanente.
Esse eu permanente é criado pelo atrito, pelo conflito interno que acontece quando você tenta ficar desperto, enfrenta forças de oposição e inércia. O eu permanente é o começo da existência real, da individualidade, e da possibilidade de sobreviver à morte do corpo físico. Para pensarmos em sobreviver à morte, precisamos que haja algo em nós que seja forte o bastante para desistir à morte. Além disso, a nossa consciência deverá existir e estar ligada a essa parte de nós. Isso é o que podemos saber usando um raciocínio simples: se nos tornamos senhores da nossa vida, poderemos ser também senhores da nossa morte.
Se nós realmente levarmos a sério nosso trabalho pessoal, fazendo os esforços adequados e na direção certa, esse esforço criará um atrito interior. Esse atrito interior criará, ou possibilitará à nossa fábrica química a produção de substâncias mais finas, mais sutis, que não são produzidas em nós no nível atual de trabalho da nossa máquina. Essas substâncias, se o trabalho for prolongado e não for interrompido, se acumularão no nosso corpo, no nosso sangue, nas nossas células, e chegarão a formar um segundo corpo, dentro do nosso corpo físico.
Esse corpo terá propriedades distintas do corpo físico e estará sujeito a outras leis. Através dele, poderemos utilizar o centro emocional superior. O homem que alcançar esse nível, já estará bem acima do nível comum da vida. Agora, através de um trabalho posterior, ele poderá formar dentro do segundo corpo um terceiro corpo, mais sutil, que poderá controlar o centro intelectual superior. Finalmente, o homem com três corpos trabalhará, e adquirirá um quarto corpo, e terá alcançado tudo que um homem pode alcançar, e já não poderá perder o que alcançou.
Esses corpos superiores em diferentes níveis de “imortalidade”, isto é, o segundo corpo sobreviverá à morte do corpo físico por algum tempo, e a consciência do homem que possui dois corpos estará no segundo corpo, que não morre tão facilmente como o corpo físico. Mas o segundo corpo, a seu tempo, também morre. Se o homem tiver formado o terceiro corpo, este sobreviverá ainda mais tempo depois da morte do segundo corpo. Finalmente, quando o terceiro corpo morrer, restará, caso o homem possua, o quarto corpo, e este é imortal nos limites do sistema solar.
O homem que alcançou este nível de ser é chamado homem nº7.
Aquele que possui os três corpos e trabalha com os dois centros superiores, homem nº6.
O homem de dois corpos, que já trabalha com o centro emocional superior, homem nº5. Ele alcançou a unidade, isto é, um eu único e permanente.
Aquele que encontrou um ensinamento, em condições de compreendê-lo e assimilá-lo, e passou a fazer de sua evolução e do trabalho relacionado a ela, a coisa mais importante da sua vida, não só em palavras, mas de fato, é chamado homem nº4. O homem nº4 ainda possui as mesmas debilidades de um homem comum, mas ele já está começando a se libertar de algumas leis gerais, as mais grosseiras, que afetam os homens comuns.
Os homens comuns formam a humanidade mecânica e se dividem em homens nº1, se os centros motor e instintivo desempenham o papel predominante na tarefa de controlar as suas vidas, isto é, de produzir os desejos que controlam o homem;
homem nº2, se for principalmente escravo de suas emoções;
e homem nº3, se for uma marionete controlada pelos pensamentos que automaticamente são produzidos em sua mente.
“
Há, portanto, sete tipos de homens, no que se refere ao nível do seu ser.
Quando falarmos de homens superiores, estaremos falando de homens nºs 5,6 e 7. Eles adquiriram um ser muito superior ao nosso e, por isso, suas possibilidades de saber também são muito maiores.
O homem nº4 está mais próximo de nós, num nível de ser um pouco mais elevado.
Quando falo de nossa situação atual, me refiro a características dos homens nºs 1, 2 e 3, que estão aproximadamente no mesmo nível de ser.
A compreensão dessas características e os primeiros esforços para a mudança do ser, sob a orientação das idéias certas, são o começo de uma longa jornada, cujo fim podemos somente imaginar
”
Nossos centros possuem, cada um, três partes, ou seja, seu trabalho pode ser realizado de três maneiras diferentes.
O primeiro nível, ou o primeiro andar de cada centro, é aquele que trabalha automaticamente. Seu funcionamento independe da nossa atenção.
O segundo andar funciona quando algum fator externo nos mantém concentrados no que estamos fazendo. A nossa atenção é atraída pelo assunto ou objeto em questão, e não precisamos fazer esforço para mantê-la.
O terceiro andar, o andar superior de cada centro, nós só podemos utilizar se, por um esforço, nos concentramos no que estamos fazendo, ou pensando, ou sentindo. É esse andar superior que quase nunca utilizamos e é por isso que nosso ser está num nível tão inferior ao que poderia, e nós estamos tão longe dos centros superiores.
A parte superior do centro intelectual, por exemplo, deveríamos usar para a descoberta, para pensar nas idéias e formular teorias. Ao invés disso usamos a parte inferior, e os resultados são evidentemente muito inferiores ao que poderiam ser.
A parte automática do centro intelectual tem sua utilidade. Essa parte, chamada aparelho formatório é responsável pelas associações, pelo pensamento mais rudimentar, que julga as coisas segundo um critério do tipo: sim e não. O pensamento formatório não deveria ser utilizado para pensar sobre a vida, pois ele só sabe dividir as coisas em dois: bom ou mau, quente ou frio, cedo ou tarde. Ele pode Ter sido útil aos homens que tinham que tomar decisões rápidas do tipo: lutar ou fugir? Mas, quando erroneamente é usado para formular teorias sobre a vida, o resultado são coisas do tipo: comunismo e capitalismo, cristãos e hereges, e assim sucessivamente. Temos, a nossa vida toda, usado o aparelho formatório para todo tipo de trabalho intelectual: para conversar, responder, perguntas, discutir, assistir TV, estudar, etc. E, no entanto, continuamos acreditando em nossas teorias e idéias e realmente nos julgamos muito espertos.
E, para o trabalho dos outros centros, também temos usado somente as partes inferiores. Se queremos aumentar a qualidade da nossa vida e o nível do nosso ser, temos que aprender a utilizar as partes superiores dos nossos centros.
Para utilizar as partes superiores dos centros, devemos aprender a fazer um tipo especial de esforço. Um esforço para termos uma certa consciência do que estamos fazendo. Um esforço para estarmos “aqui e agora” no momento em que estamos escrevendo algo, ou colocando água num copo, ou conversando com alguém. Através desse esforço, nossas ações se tornam um pouco menos mecânicas. Adquirimos um controle maior.
“
Neste momento, por exemplo, estou escrevendo com minha lapiseira numa folha A4. Sinto o atrito da ponta do grafite contra o papel, sinto meus pés encostarem no chão. Estou consciente de quem eu sou e de muitas coisas que sei sobre mim mesmo. Posso “ver” os meus pensamentos formulando as frases que vou escrever, minha mão tentando acompanhar o ritmo dos pensamentos e meu centro emocional preocupado em saber se você vai entender o que eu quero dizer. Meu centro emocional está preocupado, mas eu o estou vendo, e eu não, estou preocupado. Em suma, quero dizer que estou aqui e agora, vendo tudo ao meu redor e vendo a mim mesmo. Mas não de forma permanente. Através de um esforço, tenho um lampejo dessa sensação por uma reação de segundo e, em seguida, minha atenção se perde no trabalho de formular as frases, no trabalho da mão e no desejo de que você me compreenda. Através de um novo esforço, cada vez mais difícil, tenho um novo lampejo desse estado, e, em seguida, me identifico de novo com algum pensamento que me passou pela mente. O esforço que estou fazendo agora é exatamente o que nos possibilita trabalhar com as partes superiores dos centros.
”
Na nossa condição atual, é a coisa mais elevada que podemos fazer. Esse esforço, nós o chamaremos, daqui para a frente, de lembrança de si.
Os esforços para lembrar-se de si mesmo são o núcleo do nosso trabalho. Eles nos farão despertar, nos possibilitarão observa-nos e conhecer-nos a nós mesmos. Nos farão adquirir consciência, vontade, controle sobre si. Possibilitarão a produção de substâncias sutis no nosso corpo e o seu não desperdício. Tudo que fizermos estará ligado à lembrança de si. O Eu se formará por esses esforços, prolongados, diários, insistentes, persistentes. Tudo que se falou até aqui sobre esforços, sobre trabalho pessoal, sobre despertar, está ligado à lembrança de si.
Está é uma idéia psicológica que torna esse ensinamento diferente de qualquer outro. É a nossa arma secreta. É o ponto fraco nos muros de nossa mecanicidade. Temos que compreender bem essa idéia, e a colocarmos em prática.
A lembrança de si começa quando nos damos conta de que estamos adormecidos, entorpecidos por nossa imaginação, tagarelando sem freios, identificados e expressando emoções negativas. O próprio fato de nos darmos conta disso e tentar sair dessa situação, nos trará mais para próximo da realidade, do aqui e agora e da consciência de si. Assim, nos lembraremos da nossa meta, do sentido da nossa vida, etc.
Nesse momento, quanto mais idéias saudáveis e construtivas forem ligadas na nossa mente, sem que nos identifiquemos com elas, melhor. Esse é um esforço geral da idéia, mas ela somente poderá ser bem compreendida pela prática.
No começo, nosso melhor despertador, isto é, o que melhor poderá guiar a nossa mente para a lembrança de si, é a luta contra a imaginação, o falatório vazio, e as emoções negativas. Devemos nos surpreender constantemente numa dessas três manifestações mecânicas e perceber que o que nos leva a elas é a identificação. Percebendo isso, já poderemos nos olhar um pouco mais de fora, e isso será o caminho para a lembrança de si.
A identificação é decorrência da falta de controle que nos é característica, da falta de um eu permanente que ocupe o trono que lhe pertence. Quando deixamos esse trono vazio, qualquer pequena parte de nós pode ocupar o trono e inutilizar o “eu”. E nós dizemos “eu estou preocupado”, “eu estou zangado”, ou simplesmente ficamos como que entorpecidos.
Agora, quando nos damos conta de que estamos nesse estado, podemos, por um esforço consciente, colocar, no trono de suas decisões, pensamentos, emoções, ações, etc. , aquele “eu” que estamos começando a formar, e que já sabe das coisas mais do que os outros eu’s.
Isso é “lembrar-se de si”, ou “estado de vigília”.
É justamente por não compreender esse princípio e este método que muitas pessoas jamais conseguem pôr em prática suas teorias, e vivem sempre fazendo o oposto do que quereriam fazer, se estivessem no controle.
Mas como fazer isso?
Como se dar conta disso no desenrolar da vida, em meio a um mar de impressões, emoções, informações, etc?
Justamente criando despertadores, ou seja, algo que nos faça lembrar-nos de nos lembrar de nós. E o primeiro despertador que se propõe é a luta contra a imaginação, o falatório vazio e as emoções negativas.
Temos o costume, por exemplo, de imaginar que temos poderes que, de fato, não temos, e que sabemos coisas que, de fato, não sabemos. Isso, por sua vez, dá origem ao falatório vazio e à mentira, pois passamos horas discorrendo sobre assuntos que não conhecemos de verdade e sobre os quais não temos o menor fundamento, a não ser a nossa imaginação. E, enquanto fazemos isso, não estamos de fato vivendo, estamos mortos, pois, para haver vida, é preciso que haja verdade.
E, quando estamos identificados, comumente nos pomos a falar desnecessariamente, e esse falar consome nossa energia e nossa atenção. Estabelece-se uma conexão automática entre os pensamentos e o gesto motor de falar, ambos mecânicas, e nos tornamos simples máquinas de falar. Nesse momento, o melhor a fazer é calar-se e acordar.
Um outro aspecto, ligado à imaginação, é que, quando nos recordamos de alguma situação que vivemos, imaginamos que poderíamos ter agido de outra forma, e, então, passamos horas reconstruindo mentalmente as situações, criando mundos imaginários e vivendo neles. E isso nos afasta do mundo real. Na verdade, não poderíamos, nunca, ter agido de outra forma, pois somos mecânicos e não decidimos nada. Tudo simplesmente acontece. A única possibilidade de mudar essa situação é o trabalho sobre si. Somente através de um prolongado trabalho sobre si mesmo é que poderemos adquirir a capacidade de fazer. Por ora, o melhor que podemos fazer, é esse trabalho interior, o qual só se tornou possível porque conhecemos essas novas idéias e esses novos princípios.
Sobre as emoções negativas, há muitos aspectos e muitos detalhes que devem ser observados, se queremos lutar contra elas. O primeiro deles é que essa luta só poderá começar depois que aprendemos a deter a expressão das emoções negativas.
A expressão das emoções negativas é um hábito que aprendemos desde criança, por imitação, e que nos acompanha toda a nossa vida. Se tentarmos detê-la, veremos que essa tarefa é mais difícil do que esperávamos. A expressão das emoções negativas é um hábito mais forte do que imaginamos. Há sempre uma boa desculpa para fazê-lo. É necessário, pois, primeiramente, compreender que não há qualquer utilidade nas emoções negativas e na sua expressão e, mais ainda, enquanto nos permitirmos expressar livremente nossas emoções negativas, não teremos chance algum contra elas, pois não poderemos observá-las. As emoções negativas nos arrastarão e nos manterão eternamente sob seu poder, adormecidos, longe da realidade.
A luta contra essas três manifestações mecânicas é, portanto, um bom modo de se despertar nas diversas situações da vida.
O homem pode experimentar, em sua vida, quatro estados de consciência. Nós, porém, vivemos usualmente só nos dois primeiros, isto é, nos dois inferiores, embora não saibamos disso. Dessa forma, desperdiçamos toda a nossa vida em estados letárgicos ou semi-letárgicos, sem sequer saber da existência dos estados superiores de consciência e das possibilidades que eles contêm.
O primeiro nível de consciência é o sono comum, quando dormimos, por exemplo, em nossas camas à noite e não temos qualquer controle. As partes automáticas dos centros continuam funcionando, dando origem, por exemplo, a movimentos automáticos e aos sonhos, onde temos dificuldades para discernir o real do imaginário. Os sonhos, via de regra, vão se sucedendo por associação, sem ordem ou controle.
O segundo estado de consciência é o estado comum em que as pessoas vivem quando julgam estar acordadas. Mas, para nós, o estado em que as pessoas vivem comumente está muito mais próximo do sono do que de estar, de fato, acordado. As pessoas continuam como que adormecidas, pois permanecem reféns dos pensamentos automáticos e do trabalho automático dos centros. Enfim, vivem como entorpecidos, sem controle e sem liberdade interior. Não temos um nome para esse segundo estado de consciência, mas dizemos usualmente que as pessoas estão adormecidas quando estão nesse estado e faremos ressalva somente quando quisermos nos referir ao primeiro estado de consciência.
O terceiro estado de consciência, desconhecido de quase todos, embora quase todos suponham viver nele, chama-se consciência de si. Nesse estado, nós nos vemos e podemos conhecer toda a verdade sobre nós mesmos. Esse é o estado de consciência comum do homem n°5, que já trabalha com o centro emocional superior, e possui um Eu único e permanente.
Os esforços, feitos corretamente e de forma persistente, para a lembrança de si nos levarão, a médio prazo, a ter vislumbres do terceiro estado de consciência. Na verdade, até um homem comum pode ter, acidentalmente (pois tudo para ele é acidental), e em raríssimas ocasiões, lampejos do terceiro estado de consciência. Mas esses lampejos serão isolados e não produzirão qualquer resultado efetivo. Mas, para os homens n°4 que trabalharem constantemente, esses lampejos poderão tornar-se cada vez mais freqüentes e cada vez mais duradouros, e assim produzirão efeitos cada vez maiores sobre a qualidade do nosso ser, e da nossa compreensão.
O quarto estado de consciência é para nós, hoje, somente um nome: consciência objetiva. Nesse estado, que é o estado comum dos homens nºs 6 e 7, o homem já ultrapassou a ilusão dos sentidos, e pode conhecer toda a verdade sobre todas as coisas. Ele vê as coisas tais como são.
Há muitas descrições desse estado na literatura, utilizando diversas imagens e metáforas, mas pouco se fala do terceiro estado de consciência. Este, porém, é condição necessária para que se possa chegar àquele. Aliás, um aspecto deste ensinamento, que o diferencia dos demais, é que sempre se procura expor uma idéia do ponto de vista prático, isto é, ligando-se a idéia à situação atual e ao próximo passo que podemos dar, enquanto que, em outros sistemas, fala-se de condições que estão muito distantes das nossas condições atuais e torna-se muito difícil fazer a ligação entre as duas.
O “Eu” é o caminho, a verdade, e a vida. Um aspecto psicológico muito importante da lembrança de si que devemos aprender a separar, a cada vez que nos lembramos de nós mesmos, o “eu”, que por ora é apenas a semente do verdadeiro eu e que, no nosso caso, não é um só, mas um conjunto de “eus” independentes e desorganizados que se sucedem indefinidamente em nossa mente, e ao qual damos, erradamente, o nome de “eu”. Isso é muito importante. Nosso trabalho só poderá dar bons resultados quando soubermos separar “eu” e “Eu”, e saber que praticamente tudo, ou tudo que até hoje chamamos “Eu”, é, na verdade, “eus”. Devemos ser capazes de ver os “eus” de fora, olhar para eles e não nos identificar. Devemos até mesmo rir deles, da mecanicidade deles, e compreender quão tênue, quão fraco, quase imperceptível é o nosso verdadeiro “Eu” atualmente.
Que pequeno lugar, em nossas vidas, ocupa o nosso verdadeiro “Eu”, se comparado com os outros “eus”! Temos vivido separados do nosso verdadeiro “Eu”, imersos em sonhos distrações, preocupações, planos, devaneios, imaginação, mentiras, futilidades, etc. Devemos assim, cada vez que nos lembrarmos de nós, ter o cuidado de abrir espaço em meio aos nossos “eus”, para que o verdadeiro “Eu” possa respirar e, desse modo, crescer.
Não devemos ter ilusões a respeito disso. Devemos saber que a única coisa que hoje podemos chamar de “Eu” é o que em nós está ligado às idéias deste ensinamento. Quando ouvimos falar, pela primeira vez, em separar “Eu” dos “eus”, temos a tendência de chamar “Eu” àqueles “eus” de que mais gostamos e “eu”, àqueles de que não gostamos. Esse é um erro muito comum. Devemos, para conhecer a verdade sobre nos mesmo, estar desapegados de todos os nossos “eus”, para poder colocar, cada um deles, no lugar que lhe cabe, e o nosso verdadeiro eu, no lugar que lhe é devido. É claro que esse desapego, como tudo mais neste caminho, será conquistado gradativamente, com a continuidade do trabalho.
Uma outra coisa importante que devemos ligar à lembrança de si, é a observação do trabalho do centro motor, isto é, dos nossos movimentos e do trabalho dos músculos. Desperdiçamos muita energia inutilmente por causa da tensão muscular inútil. Nosso corpo não pára. Não conseguimos ficar parados. Os momentos involuntários se sucedem, sem que o percebamos. Além disso, para executar movimentos simples, e para andar, tencionamos muitos músculos desnecessariamente. Nosso andar deverá tornar-se o andar de um homem superior, e nossas posturas também. Temos que trabalhar para isso. Não adianta, neste caminho, trabalhar só com a mente. Temos que aprender, simultaneamente, a Ter controle sobre o centro motor. E o primeiro passo para isso é lembrar de observar o centro motor, sempre em toda parte.
Um trabalho mais correto do centro motor, com movimentos e posturas mais sutis, influenciará positivamente o trabalho dos outros centros, e a produção das substâncias pelo nosso corpo.
A lembrança de si é justamente o que nos possibilita um trabalho integrado sobre todas as áreas do nosso ser. Nosso trabalho acontece nas circunstâncias normais da vida. É a própria vida que fornece a substância e o estímulo necessário para a nossa evolução.
Dia a dia, a vida nos dará as oportunidades para fazer esforços. Se soubermos aproveitá-las, as coisas começarão a mudar para nós. Escaparemos das leis mecânicas que controlam a humanidade. Poderemos extrair da vida o melhor que ela tem para nós. Teremos vida, vida em abundância.
“Vigiai e Orai.”
(Jesus Cristo)
3.2 Plano de ação
Designar 1(uma) hora da jornada de trabalho por dia para as atividades do Programa de Educação Suplementar, podendo o trabalhador optar em participar da atividade do dia ou continuar trabalhando normalmente.
Sugestão de Roteiro Semanal:
Segunda: Seminário e definição do exercício de observação a ser praticado na semana para o estudo de si mesmo.
Terça: Ginástica Laboral
Quarta: Meditação / Relaxamento / Alongamento / Yoga
Quinta: Seminário (Educação – Ergonomia – Alimentação – Saúde)
Sexta: Dinâmica de grupo – relatos das observações e experiências de cada um pela a prática do exercício da semana.
4.1 Aspectos conclusivos
Conceito atual de Promoção da saúde:
Saúde é uma resultante social de melhoria das condições de vida e autoconhecimento da população.
1- Conhecer todo o processo de produção
2- Capacitação em emergências médicas e primeiros socorros
conscientização ergonômica
Análise/ avaliação do risco da saúde – gestão de saúde
OHSAS 18001:2007
Sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional
Metodologia: pesquisa
Saúde mental
Capacidade para o trabalho
Psicologia da educação em projetos sociais
Solidariedade
Inteligência emocional
Autoconsciência
Bem estar espiritual
Satisfação
Subjetividade
Coping/burnout
4.2 Considerações sobre as questões formuladas
Como podemos incorporar os fatores humanos aos processos do Sistema de Gestão de SMS e obter uma melhor e mais explicita consideração da forma como as pessoas interagem com todos os aspectos do ambiente de trabalho, contribuindo para o alcance da excelência no desempenho em SMS ?
Como podemos prevenir e reduzir as falhas humanas, considerando como os indivíduos interagem com os outros indivíduos, com as instalações e equipamentos e com o sistema de gestão?
4.3 Sugestões de trabalhos futuros.
Programa de educação alimentar
Não será objetivo do estudo a implementação do Programa, bem como a avaliação dos indicadores de resultados, diagnóstico interno e evolução.
Indicadores de resultado, diagnóstico interno e evolução.
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