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Capital humano, gestão de pessoas e FIB no Butão

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Capital humano, gestão de pessoas e a felicidade interna bruta no Butão

A nova concepção das organizações e corporações sobre as pessoas está vinculada ao capital por meio da lógica da geração de valores econômicos e recursos, ultrapassando a noção de mais valia no discurso do trabalho assalariado como gerador de valor agregado. Os seres humanos hoje não são vistos mais como peças de reposição numa linha de montagem, mas como a própria matéria para formação de ativos nas empresas, atualizando a noção de capital humano na gestão de pessoas, usualmente associando-as com processos de geração de valor.
O ser humano passa a representar fonte de rendimento, elemento central no processo de geração de valor econômico. Essa postura associa as qualidades humanas à organização coletiva da produção de bens e serviços, num discurso humanista para objetivo restrito ao seu engajamento¹ neste processo gerador econômico. Significa que o investimento é no capital e não na pessoa, através das aptidões pessoais para contabilizar uma série de aspectos da vida em prol da maximização do próprio capital, justificado como incremento da fonte de rendimento, conceitualmente entendido como capital intelectual. Na verdade essa postura implica maior controle e poder sobre o trabalhador ao considerá-lo capital humano², eleva-o ao extremo individualismo sob os interesses da empresa para a qual trabalha, sob a retórica da vantagem pessoal, fazendo-o crer que suas qualidades se converterão em fontes de rendimentos. A vida se torna objeto de uma gestão empresarial, elevada ao extremo quando a ordem é se adaptar a exigências desumanas. Assim, além da gestão por empresas, pelo Estado e outras instituições, sua vida é limitada a lógica administrativa, no que implica o empobrecimento da original diversidade de modos de se encarar a luta pela sobrevivência.
Como consequências nós atingimos a artificial rede atual de relações pessoais, apenas vista como potenciais de negócios. O sentido familiar passa à lógica do investimento capitalista, inexistem fronteiras entre tempo de trabalho e tempo de lazer. Nossa qualidade humana original, verdadeiras individualidades são anuladas e nossa dignidade inteiramente comprometida nessa nova visão de consumo para investimento de médio e longo prazo. Ao enxergar-se capital humano, o trabalhador deixa de se identificar com sua classe e passa a ver os outros trabalhadores como empresas concorrentes, como ameaça e não como iguais diante dos desafios da vida.

Discurso

Nova concepção sobre as pessoas na organização: ao invés de um recurso que se consome com o tempo e precisa ser reposto periodicamente, elas passariam a ser vistas como um capital a ser valorizado, por constituir o núcleo gerador de valor das empresas. A lógica da “empresa humana” estava claramente estabelecida ali.

Gestão do capital humano

Os seres humanos passam a ser vistos como elementos estratégicos de formação de capital. As empresas passam assim a valorizar as pessoas como seus principais ativos, e com isso a visão tradicional dos recursos humanos é substituída pela de “capital humano”.

Valor

Elevando o ser humano, de fato, a elemento central do processo de geração de valor econômico. O que quer dizer que o ser humano não é valorizado enquanto tal, mas apenas enquanto fonte de rendimento.

Análise e atenção

Postura muito mais ativa e participativa no processo de geração de valor, em que qualidades como criatividade, comunicabilidade, afetividade, iniciativa e capacidade de decidir são valorizadas. As qualidades inseparáveis dos seres humanos e dependendo parcialmente de sua iniciativa pessoal para a organização coletiva da produção de bens e serviços. Equivale a dizer que a sua vida pertence e é dependente exclusivamente desse modelo de realização, colocando-o como pivô do sucesso ou fracasso da corporação, que neste caso, representaria o fim de sua existência numa sociedade que prega o sucesso e elimina os fracassados.

Empresa humana e dignidade humana

O discurso de que isso levaria as empresas a se tornarem mais “humanas” não é verdadeiro. Torna-se cada vez mais necessário contar com a boa vontade do trabalhador, obtendo seu engajamento.

Realidade

O salário é um rendimento. O que é fonte de rendimento, no caso do trabalhador é o capital, é indissociável das competências do próprio indivíduo.
O investimento em capital pode ser concebido como o próprio desenvolvimento das aptidões pessoais, incluindo assim no cálculo econômico uma série de esferas da vida.
A vida toda se torna objeto de uma gestão do tipo empresarial, fazendo com que todas as relações sejam lidas e racionalizadas por meio de um cálculo de maximização do próprio capital, sendo meios para se incrementar sua fonte de rendimento.

Controle

Trata-se agora de prescrever uma nova forma de subjetividade, de modo a produzir adesão aos objetivos corporativos. O trabalhador passa a considerar a si mesmo como um capital, ele passa a se gerir como uma empresa de si mesmo. A partir da noção de capital humano, transformar os humanos em empresas, constituindo uma nova modalidade de poder e controle. Ao considerar-se como capital humano, o trabalhador deixa de se identificar com sua classe e passa a ver os outros trabalhadores como empresas concorrentes, não como companheiros de luta. A resistência coletiva contra formas insidiosas de exploração e perda de direitos se dissolve em um individualismo extremado, que busca apenas a vantagem pessoal. O empregado passa a se identificar com os interesses da empresa para a qual trabalha ou presta serviço, pois é nela que suas qualidades humanas podem se converter em fontes de rendimentos.

Condições de trabalho

Novas práticas administrativas tendem a precarizar as condições de trabalho. A vida toda se torna objeto de uma gestão do tipo empresarial, sendo meios para se incrementar sua fonte de rendimento. O trabalhador precisa promover uma acumulação crescente, indo sempre além de si mesmo. São levados ao extremo, e tampouco são raros os casos de recorrência a estimulantes mentais, físicos e mesmo a remédios psiquiátricos para decuplicar as suas forças e se adaptar a exigências desumanas.
O indivíduo deve assumir os riscos de suas decisões e se responsabilizar inteiramente por elas, zelar pela valorização de seu capital humano, responsabilizando cada um por fenômenos cujas variáveis estão completamente fora de seu controle. Além da gestão realizada por empresas, Estado e outras instituições, as pessoas são submetidas também a uma autogestão do tipo empresarial, em que todas as esferas da vida são reduzidas à lógica administrativa, promovendo um empobrecimento da diversidade de modos de vida.

Consequências

A instrumentalização das redes de relações pessoais como oportunidades de negócios, a criação dos filhos a partir da lógica do investimento capitalista, a não diferenciação entre tempo de trabalho e tempo de lazer, a impossibilidade de se dedicar a um trabalho em que suas qualidades humanas originais, individualidade, de sua dignidade estão inteiramente implicadas, a nova visão do consumo apenas como investimento de médio e longo prazo etc.

Enquanto isso no Butão…

O Governo Real do Butão formulou índices para o FIB³, que subsidiam, avaliam, rastreiam e guiam o planejamento do desenvolvimento especificamente para aquele país. Os índices FIB de nível macro podem ser subdivididos em numerosos sub-indicadores que são úteis em diversos fatores:

PSICOLÓGICO

O bem estar psicológico é de primordial importância para medir o sucesso do estado em prover as políticas e os serviços apropriados. Entre inúmeros indicadores, a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, o estresse, as atividades espirituais, o desfrute da vida, a satisfação com a vida, a auto avaliação da saúde – seja física quanto mental – são calculados na população.

USO DO TEMPO

O domínio do uso do tempo é uma das mais eficazes janelas para qualidade de vida, uma vez que ele analisa a natureza do tempo que é despendido. O uso do tempo é reconhecer o valor do lazer. Os laços sociais criados e compartilhados na socialização com a família e com os amigos contribuem significativamente para todos os níveis de felicidade e contentamento numa sociedade.

SAÚDE

Avaliam o status de saúde da população, os fatores determinantes da saúde e o sistema de saúde em si. Incluem a auto avaliação da saúde, invalidez, as limitações para atividades e a taxa de dias saudáveis, padrões de comportamento arriscados, exposição a condições de risco, status nutricional, práticas de amamentação e condições de higiene. O sistema de saúde, que incluí tanto o sistema ocidental quanto o nativo, é medido a partir do ponto de vista da satisfação do usuário em diversas dimensões, tais como amabilidade do provedor, competência, tempo de espera, custo, distância, etc.

EDUCAÇÃO

Contribui para o conhecimento, valores, criatividade, competências, capital humano e sensibilidade cívica dos cidadãos. Um domínio tal como o da educação não tem por objetivo meramente medir o sucesso da educação por si, e sim tentar avaliar a eficácia da educação quanto a se trabalhar em prol da meta do bem estar coletivo. Considera fatores como: participação, competências e apoio educacional, entre outros. Esse domínio inclui no seu escopo a educação informal (competências nativas, técnicas tradicionais orgânicas de agricultura e pecuária, remédios caseiros, genealogias familiares, conhecimento sobre a cultura e história locais), e educação monástica.

DIVERSIDADE E RESILIÊNCIA CULTURAL / BOA GOVERNANÇA

A manutenção das tradições culturais é uma das fundamentais metas de política pública do país, já que reconhece o valor das tradições da diversidade cultural na formação da identidade, nos valores e na base criativa para o futuro. Os indicadores estimam valores nucleares, costumes locais e tradições, bem como a percepção de mudanças em valores e tradições. O domínio da governança avalia como as pessoas percebem várias funções governamentais em termos da sua eficácia, honestidade e qualidade. Os temas desses indicadores incluem liderança em vários níveis do governo, na mídia, no judiciário, na policia e nas eleições.
O Butão já organizou quatro Congressos Internacionais sobre o FIB, o ultimo em outubro de 2008, com forte participação ocidental.

O FÓRUM MUNDIAL DE ISTAMBUL (JUN/07)

Para “Medir e Encorajar o Progresso das Sociedades” organizações internacionais como a Comissão Europeia, Índice Canadense de Bem-Estar (ICBE), a Organização Para a Conferência Islâmica, Nações Unidas e o Banco Mundial. Reconheceu-se que nossa dependência em tais medidas econômicas do tipo do PIB como sendo um dos principais sinalizadores de progresso, é uma prática que precisa ser alterada. Em muitos dos países desenvolvidos, a prosperidade aumentou, o capital social diminuiu e o Bem-estar/felicidade não aumentaram.

Logo, algumas conclusões ficam evidentes: em alguns dos países desenvolvidos, nossa prosperidade tem aumentado ao mesmo tempo em que o capital social tem se deteriorado, e a felicidade permaneceu achatada ou declinou. Essas tendências são particularmente devastadoras se for considerada a “taxa” que foi cobrada pelo progresso no meio ambiente.

O Canadá e a Inglaterra assumiram um compromisso muito sério com esse tema, envolvendo até os escalões mais elevados do governo. Os ingleses articularam um foco de política pública voltado para o bem-estar, onde todas as políticas públicas precisam ser ponderadas em relação aos seus respectivos impactos no bem-estar.

Pelo fato do FIB incluir medidas subjetivas, existe um contínuo interesse no desenvolvimento e implantação de outras ferramentas para política pública acontecendo em vários países, tais como lentes e métodos para conduzir avaliações de impacto ambiental.

FELICIDADE INTERNA BRUTA PRODUTO INTERNO BRUTO
Mede outras formas de capital e serviços, tais
como aqueles providos pelo meio ambiente,
humanos e sociais.
Mede muito bem o capital produzido.
Bem público, porém subjetivamente sentido. É parte integrante do FIB, uma vez que o
crescimento econômico de fato promove o bem-estar e a felicidade dos mais pobres.
A felicidade é, e deve ser, um bem público, já
que todos os seres humanos a almejam.
Ela não pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos e esforços privados.
O PIB subvaloriza tempo livre e trabalho não
remunerado, não mede o tempo livre e nem
tampouco o trabalho voluntário, não
remunerado, revelando um sério preconceito
contra trabalho voluntário e lazer que contribui para a felicidade e o bem-estar.
Cuidar de crianças e idosos, o trabalho
doméstico, são serviços não remunerados que
se dão à margem das transações do mercado.
Essas atividades não estão precificadas, e são
executadas por aqueles cuja motivação está
acima do ganho financeiro.
Se o planejamento governamental, e portanto
as condições macro-econômicas da nação,
forem adversos à felicidade, esse planejamento fracassará enquanto uma meta coletiva.
Os governos precisam criar condições
conducentes à felicidade, na qual os esforços
individuais possam ser bem sucedidos.
Uma economia cujo PIB cresce continuamente,
a uma taxa ambientalmente insustentável, pode ser vista como um fracasso, devido à sua
incapacidade de promover o desapego da
proliferação de desejos.

¹Para se obter um grau de satisfação na organização é preciso que os seus trabalhadores estejam satisfeitos, felizes.
²A prática de gestão do capital humano sem considerar aspectos relevantes tais como felicidade, satisfação, aptidões, qualidade de vida, treinamento, comprometimento da equipe poderão repercutir negativamente nas metas traçadas pela politica da organização. As organizações são formadas por recursos humanos, hoje em dia denominados por capital humano da organização. Cabe a gestão do capital humano propiciar um ambiente adequado e favorável as praticas laborais.

³No oriente existe uma filosofia conhecida por felicidade interna bruta FIB, que busca alinhar as necessidades e anseios do individuo para com as necessidades do quotidiano de uma organização, respeitando valores intrínsecos e extrínsecos dos indivíduos.

fontes:
ANDRADE, Daniel Pereira. Empresa Humana ou Humano Empresa? - Revista de Administração de Empresas. Jan/Jun 2011, Vol 10. No 1 – p.38-41. disponível em http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/38-41.pdf, acesso em 24 ago 2015.

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