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O Homo Ciberneticus

por Alexandre Teixeira*

Confira entrevista com o futurólogo britânico

Ian Pearson

Ian-PearsonAos 51 anos, não é nenhum aventureiro diletante. Ele é formado em física teórica e matemática aplicada e, por 20 anos, foi pago pela British Telecom (BT), para antecipar tendências e ajudar a materializá-las sob a forma de produtos e serviços. Foi na BT, em 1991, quando o telefone celular ainda era novidade, que Pearson concebeu o sistema de transmissão de texto que daria origem ao SMS, o popular torpedo. Consta que ele anteviu o modelo de console sem fio para videogames dotado de um acelerômetro capaz de detectar movimentos em três dimensões que hoje se associa ao Wii, da Nintendo, e ao Xbox, da Microsoft. Em sua passagem pela BT, Pearson chamou a atenção para o potencial de serviços hoje consagrados, como os mecanismos de busca e o e-mail. Nem sempre o ouviram.
Atualmente, ele atua em carreira solo, à frente da empresa Futurizon, que fundou em Ipswich, na Inglaterra. Por meio dela, presta consultoria e faz palestras, internacionalmente. Consciente das vulnerabilidades da profissão de futurólogo, Pearson diz ter, desde 1991, um histórico comprovado de 85% de precisão em suas previsões para horizontes de dez anos.
“Minhas ferramentas são: uma sólida experiência em ciência e engenharia, análise de tendências, senso comum, tino comercial, saber quando ouvir outras pessoas e um montão de pensamentos”, afirma ele.
Pearson lançou seu livro mais recente, em 2011, You Tomorrow (Você amanhã), sem tradução brasileira. Ele define o trabalho como “um livro sobre o futuro da vida cotidiana”. Soa pretensioso?
Pearson se defende:
“Embora use o título de futurologista, que soa ligeiramente amalucado, sou apenas um engenheiro fazendo deduções lógicas para o amanhã, baseado em coisas que já podemos ver acontecendo”.
Alexandre — Sei que sua especialidade é o futuro, mas gostaria de falar, inicialmente, sobre o passado. O senhor é capaz de citar acertos de futurologistas que ajudaram organizações a antecipar tendências relevantes?
Pearson — Acertamos a maioria das coisas que aconteceram na world wide web, no começo dos anos 1990. Entre os anos de 1991 e 1992, ajudamos empresas de toda a Europa a projetar a infraestrutura necessária para a “banda larga” que agora vemos como algo comum. Houve pouquíssimas surpresas, porque fomos precisos na definição dessa estratégia. Este é, provavelmente, o melhor exemplo.
Alexandre — E o que dizer dos erros e fracassos dos futurólogos?
Pearson — Bom, há sempre aqueles notórios, como o do Bill Gates, dizendo que ninguém nunca iria querer mais do que 640K de memória, esse tipo de coisa. Mas ele não é um futurista profissional, então é realmente injusto. Não preciso ir além de mim mesmo para trazer alguns erros. No passado cheguei a dizer que, no ano 2000, estaríamos trocando a TV pela realidade virtual.
Alexandre — De acordo com suas previsões, em 20 anos, os computadores serão mais inteligentes que os seres humanos, capazes de transmitir sensações e mesmo de preservar o conteúdo da mente humana, o que soa um tanto assustador…
Pearson — É assustador, mas esse movimento não começa da noite para o dia. Ele chega pouco a pouco e você se acostuma a ele. A cada ano diversas coisas novas são lançadas e nós apenas as aceitamos. Ao longo de um período de dez anos, isso significa muita mudança. Hoje mesmo, temos supercomputadores mais rápidos que o cérebro humano, em termos de poder de processamento. Então, já temos essa equivalência com as máquinas. Daqui a 20 anos, você terá equipamentos, no seu bolso, mais espertos que seu cérebro. Você também será capaz de ligar computadores a seu sistema nervoso periférico usando uma pele microelétrica. Você poderá imprimir telas eletrônicas na superfície da pele. Essa pele eletrônica se ligará aos nervos na palma da sua mão. Os sinais elétricos digitados na pele viajarão por esses nervos acionando comandos ou sendo armazenados em um computador. E vice-versa. Em algum ponto do futuro, ao experimentar um jogo de computador ou assistir a um anúncio, você poderá, literalmente, sentir algo em seu corpo, graças a um estímulo dessas terminações nervosas.
Alexandre — Não estou tão certo de que iria gostar de que um anúncio me tocasse desse modo. O que mais seria possível?
Pearson — Muito do processo de pensamento vai ser capturado nessa mesma geração de tecnologias. Se você criar um link e transferir todo o seu processo de pensamento para um computador, poderá gravar a sua mente toda. Estamos falando de 2045, 2050, o que é um futuro mais distante. Mas capturar apenas sensações é uma coisa razoavelmente superficial. Poderemos fazer isso dentro de 20 anos ou antes disso.
Alexandre — Se pensarmos em termos de sociedades, e não apenas do desenvolvimento tecnológico puro, considerando também economia e política, o senhor acha que essa evolução será predominantemente positiva ou negativa?
Pearson — É inteiramente possível ter avanços positivos e, ao mesmo tempo, um aumento da opressão, da vigilância e da invasão de privacidade. Podemos ter as duas coisas: equipamentos fantásticos que fazem a nossa vida muito melhor e também um governo opressivo. A tecnologia se presta a ambos os propósitos. No momento, infelizmente, estamos vendo evidências de que vamos ter ambos ao mesmo tempo. Na Europa, por exemplo, temos governos que querem monitorar cada coisa que fazemos, com a instalação de câmeras para controle de velocidade nas ruas, o monitoramento do que você faz no seu telefone celular e dos seus e-mails.
Alexandre — A tecnologia pode tornar real a figura do Grande Irmão orwelliano.
Pearson — Há muitas invasões de privacidade para as quais os governos querem usar as novas tecnologias. Vemos forças policiais pedindo para usar veículos teleguiados que os militares utilizam no Afeganistão para nos monitorar. Temos grandes empresas de TI, como a Apple, tentando ajudá-las ao inventar novas tecnologias que permitam inabilitar todos os smartphones em uma área, apenas enviando um sinal especial.
Alexandre — Não sei qual é a expressão certa para isso, mas o senhor vem escrevendo sobre algo que poderíamos chamar de imortalidade eletrônica. Quanto tempo teremos de esperar até esse tipo de imortalidade se tornar realidade?
Pearson — Há um projeto que as pessoas do Google chamam de Projeto 2045, porque é exatamente quando elas deverão estar atingindo essa imortalidade eletrônica. A essa altura, você terá um arquivo tão bom da sua mente no mundo das máquinas que seu corpo morrerá e você poderá seguir em frente como uma entidade-máquina. Acho que estão sendo otimistas quanto ao período de tempo. Se você quer um link tão transparente entre seu cérebro e as máquinas para que a maioria dos seus pensamentos e das suas memórias esteja acontecendo dentro do mundo da TI, provavelmente terá de esperar até os anos 2050. E então, 10, 15 ou 20 anos depois, vai virar rotina. Em 2070, será normal para as pessoas usar a TI como extensão de seus cérebros. Até certo ponto, muito de seu processo de pensamento e muitas de suas memórias estarão duplicadas ou totalmente armazenadas no mundo da TI. Então, seus corpos morrerão, seus cérebros morrerão, elas perderão uma porcentagem de sua mente e parte de sua personalidade desaparecerá com ela, mas muita coisa vai ficar no mundo da TI. Então, será de fato uma imortalidade eletrônica.
Alexandre — Nesse mundo que o senhor vislumbra, androides terão mentes humanas quase reais e coexistirão com seres humanos. Isso soa como ficção científica, algo como o filme Blade Runner, com androides se confundindo com humanos. Quão real é essa imagem?
Pearson — Estou certo de que você viu o filme Eu Robô [uma produção de 2004, inspirada numa coletânea de contos de Isaac Asimov e ambientada em 2035, na qual um policial tecnofóbico investiga um crime que pode ter sido cometido por um robô]. Acho que aquele equilíbrio [entre humanos e máquinas] não está muito longe do que eu esperaria ver. A maioria das casas provavelmente terá um ou dois desses robôs de estilo androide, desempenhando várias tarefas. Teremos um monte deles.
Alexandre — Quão parecidos com humanos? Reais a ponto de nos confundirmos?
Pearson — A tecnologia permitirá que sejam bem parecidos com humanos. Já temos peles de silicone que podem imitar a pele humana. Também teremos músculos de silicone, muito mais poderosos que o músculo humano. Então, poderemos ter androides cinco vezes mais poderosos que os humanos. Alguma coisa com a força do Schwarzenegger, um robô muito forte que se pareça com um ser humano normal. No que diz respeito à imortalidade eletrônica, muita gente pensa que teremos um robô ou androide no qual faremos um download da nossa mente e seguiremos em frente depois de mortos, ocupando-o o tempo todo. Eu não acho que será assim. Penso que poderemos muito bem compartilhar robôs.
Alexandre — Como isso seria possível?
Pearson — Você terá uma população de, talvez, mil pessoas armazenada em um serviço on-line que suportará suas vidas, eletronicamente, dentro de uma rede. Elas poderão viajar pelo mundo na velocidade da luz. É um tipo de existência completamente diferente. Poderão, ocasionalmente, habitar um androide, mas não consigo ver por que iriam querer fazer isso o tempo todo. Então, esses robôs seriam perfeitamente adequados para o compartilhamento. As pessoas poderão alugar um androide por alguns minutos toda vez que precisarem de um.
Alexandre — Como um veículo para visitar o mundo físico?
Pearson — Talvez por umas poucas horas. Elas poderão vir, ocasionalmente, ao mundo físico como pessoas físicas. Mas, na maior parte do tempo, ficarão contentes em existir apenas eletronicamente, dentro de uma máquina. Há também a possibilidade de várias pessoas usarem um mesmo androide ao mesmo tempo. Indo além, há a possibilidade de usar um link entre o cérebro e a máquina para compartilhar o corpo de outra pessoa enquanto ela o usa.
Alexandre — Para quê?
Pearson — Para ocupar a mesma rede sensorial dela. Assim, você poderia experimentar as mesmas sensações, viver uma espécie de simbiose.
Alexandre — Muitas obras de ficção científica especulam sobre um mundo no qual as máquinas assumem o controle, como O Exterminador do Futuro e Matrix. Isto vai ser um risco real?
Pearson — Não vai ser; já é um risco real, uma vez que estamos avançando por uma estrada na qual as máquinas se tornam tão espertas quanto as pessoas e já estamos criando máquinas autônomas. As pessoas tentarão conectar essas duas coisas. Então, teremos máquinas autônomas tão espertas quanto ou mais do que humanos.
Alexandre — A ponto de poderem se insurgir?
Pearson — Isso parece quase inevitável no caminho que já estamos trilhando. Não é um risco; é uma probabilidade que seguiremos por uma estrada na qual haverá máquinas mais espertas que o homem. Existe um risco, então, de que terminemos entrando em conflito com elas em algum momento, se decidirem seguir um caminho diferente. Quando um robô é apenas uma máquina simples, a que se pede para aceitar instruções, ele faz o que mandam. Mas se damos a ele uma mente tão sofisticada quanto a de um ser humano, ele logo se torna capaz de entender situações. Ele percebe que foi instruído a fazer algo, mas que, na realidade, tem algum pensamento independente. Pode racionalizar a situação e, se não gostar das suas razões, optar por não fazer o que você quer. Ele pode optar por desobedecer, se tiver tecnologia superior à sua disposição.
Alexandre — Se vamos ter dispositivos tecnológicos conectados aos nossos cérebros para aumentar a velocidade em que operam, para melhorar nossa memória e expandir o conteúdo que eles podem armazenar, podemos assumir que isso vai gerar uma nova divisão de classes na sociedade?
Pearson — [longa pausa] Ah, sim… Podemos falar de uma nova classe de pessoas chamada homo ciberneticus, quando você adiciona capacidade eletrônica ao cérebro humano para melhorar seu desempenho. Você pode melhorar o desempenho de seu cérebro, teoricamente, por um fator de 100 milhões. Acrescentar um monte de zeros ao seu QI. Se você for muito mais esperto do que o seu vizinho, ele não poderá competir com você. É como uma competição entre você e um caracol, dado o abismo intelectual.
Alexandre — Esse abismo intelectual é um pesadelo ético.
Pearson — Se houver conflitos, não há meio de as pessoas comuns serem capazes de competir. Elas não irão conseguir projetar os mesmos sistemas de armamentos, se chegarmos ao nível do conflito armado. Certamente não poderiam ter as mesmas ideias para criar novas empresas ou tecnologias. Em todas as coisas para as quais você usa o cérebro, se tivermos uma geração de pessoas ciberneticamente melhoradas, elas teriam uma vantagem muito grande sobre as pessoas comuns.
Alexandre — De novo, é meio assustador. Mas vamos falar um pouco de negócios. Como o senhor acredita que o marketing será praticado pelas empresas nesse futuro?
Pearson — Penso em uma nova mídia, que deverá chegar direto ao seu sistema nervoso para estimular sensações. Isso amplia o escopo do marketing. Não é apenas vídeo e áudio. No futuro, vai ser possível sentir o produto, interagir com ele. Provar uma roupa como se a estivesse vestindo. Sentir a sua textura.
Alexandre — Quando se pensa no desenvolvimento da internet, muitas empresas tiveram sucesso no mundo real com modelos de negócio criados a partir das possibilidades que a web oferece. O Google é um exemplo disso. O senhor consegue imaginar que tipo de companhia e de novos setores tendem a liderar a criação de mercados nesse futuro?
Pearson — Elas virão do mundo da realidade aumentada. Acredito que dentro de 20 anos muita gente estará usando algum tipo de aparato na cabeça – que pode ser um par de óculos como o que estou usando, dentro dos quais haverá lasers capazes de “escrever” imagens diretamente na retina, ou mesmo lentes de contato ativas, que funcionarão como displays tridimensionais de alta definição e alta resolução. Isso abre um novo mundo, porque lhe permite levar sua vida cotidiana e ao mesmo tempo ter montes de informações de marketing, entretenimento, socialização, negócios…
Alexandre — É um admirável mundo novo para a publicidade.
Pearson — Você pode mudar o modo como as coisas se parecem, adicionar valor a ambientes digitalmente e obviamente processar informações de mão dupla. Ver o que os consumidores estão olhando, pesquisar o perfil deles e entregar informação customizada diretamente dentro de seus campos de visão. Se você me conhece bem, sabe que game vou jogar esta noite no meu Xbox. E, provavelmente, poderá usar esses mesmos personagens [do videogame] para entregar informação no meu campo de visão. Ou eu vou poder atirar nesses caras enquanto minha mulher faz compras.
Alexandre — Interessante, mas um tanto invasivo, não?
Pearson — O marketing ganha uma nova dimensão quando começa a colocar coisas no campo de visão das pessoas à medida que elas andam por aí no seu dia a dia. E a informação flui nas duas mãos. Eu gostaria de viver num mundo assim, porque ele torna minha vida mais divertida. Eles [os publicitários] gostariam de viver num mundo assim, porque lhes dá mais oportunidades de me vender coisas. E eu posso querer comprá-las. Vou gostar desse marketing, desde que ele seja personalizado. Não gostamos de ver anúncios porque eles são para outras pessoas. Você perde seu tempo. Quando o anúncio é sobre algo de seu interesse, você olha para ele. Às vezes, você sai explorando a internet atrás de informação sobre um produto, então uma ferramenta de marketing pode tentar antecipar o que você iria procurar, de todo modo. Vejo uma nova geração de empresas usando essa combinação de criação de perfis, contextualização e personalização para entrar na sua vida cotidiana utilizando novas mídias. É product placement na vida real para valer.
Alexandre — O senhor escreveu sobre a transição do capitalismo para a “economia do cuidado”. Pode explicar o que é “economia do cuidado” e como essa transição vai acontecer?
Pearson — Sim, à medida que os computadores ficarem mais espertos, eles vão assumir mais e mais dos nossos afazeres. Pense nas coisas mundanas da rotina, como procurar voos ou descobrir a que horas um avião vai chegar, providenciar um táxi para ir ao aeroporto, saber como o trânsito está hoje em São Paulo, achar um caminho melhor, esse tipo de coisa que nos aborrece hoje. No futuro, seu computador vai fazer esse tipo de função para você, perfeitamente. Isso vai tornar sua vida mais fácil. No limite, se você elimina do seu trabalho todas as coisas baseadas em conhecimento e todas as coisas administrativas, o que sobra são as partes que têm a ver com o lidar com outras pessoas. Lidar com a sua equipe, dar a ela avaliações de desempenho, guiá-la, liderá-la, esse tipo de tarefa. Ou trabalhos como ser uma enfermeira, um professor, um policial ou alguma coisa em que você tem de lidar com pessoas.
Alexandre — Daí o conceito de economia do cuidado.
Pearson — Chamo de economia do cuidado porque, nesse tipo de trabalho que envolve habilidades humanas, as competências mais valiosas são relacionadas a cuidar. Uma enfermeira, por exemplo, é normalmente considerada intelectualmente júnior, na comparação com o consultor mais graduado de um hospital. Mas o consultor mais graduado do hospital é basicamente um robô muito inteligente. Você pode substituir esse cérebro esperto por um computador esperto. Não é muito valioso.
Alexandre — Já a enfermeira não pode ser trocada por um robô.
Pearson — Você poderá dar a ela uma versão 20 anos melhorada de um iPad, de longe mais esperta do que o consultor do hospital, que a tornará mais esperta do que o consultor. Então, ela poderá superar o desempenho do consultor em termos de diagnósticos. É com a entrega de cuidados que sempre associamos uma enfermeira. Com o lado da compaixão, de interagir com um ser humano como um ser humano. As enfermeiras, supostamente, são muito boas nisso. Você valorizará a enfermeira mais do que o consultor, porque ela pode, facilmente, fazer o trabalho dele, mas ele não pode fazer o trabalho dela. Então, nós vemos uma inversão. Vamos de uma economia da informação dominada pelo intelecto para uma que é muito mais baseada em habilidades humanas.
Alexandre — Que competências serão mais valorizadas na economia do cuidado?
Pearson — Compaixão, amor, todo o lado emocional. É muito mais calorosa uma sociedade em que as pessoas têm habilidades pessoais e os computadores, robôs e androides dão conta das coisas mundanas que ninguém faz questão de fazer. A economia do cuidado é uma economia orientada para o humano, que é possível por termos máquinas muito espertas.

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fonte: Revista da ESPM, Edição nº 5 • setembro/outubro 2013 - Por Alexandre Teixeira

Um dia no cotidiano de 2280

Rui Santo*

Você acorda e vai “escovar os dentes” cujas cerdas são sensores emocionais, combinados com a visão astrológica.

As cerdas identificam e enviam sinais para uma central, que reenvia direto para sua mesa virtual, os alimentos necessários e na quantidade exata para equilibrar emocionalmente o seu dia, conforme você programou.
Com o advento da transferência de matéria não há sobras de alimentos e os objetos materiais – armários, fogões, mesas, geladeiras, estoques, casas, carros – agora existem apenas virtualmente. Tudo é virtual.
Toma o “café da manhã” e vai trabalhar, isto é, muda de ambiente no mesmo lugar. Pega seu “controle pessoal celular” que recebeu ao nascer e ao apertar o único botão do controle, pela identificação digital sintonizada com sua mente e o que você está pensando, projeta na parede virtual desse ambiente a tela de um computador e outra tela pequena a sua frente, como um teclado para digitar, que foi sua opção entre falar, pensar  e digitar.
“Trabalha” atendendo os compromissos solicitados pelo seu contratante temporário e pelos clientes de outras dimensões, aqui mesmo, no planeta terra.
Esse trabalho exige a instalação na mente de um chip especial, relacionado com o aperfeiçoamento de seu conhecimento profissional e em função de sua capacidade cognitiva (e /ou física) ampliada.
É um provocador de sinapses mentais para respostas adequadas aos clientes.
Mais tarde sai para fazer alguns trabalhos externos, nos órgãos do governo que ainda se mantém 200 anos atrasados, isto é, as instalações existem fisicamente como lembrança do século XX, mas como a transferência de matéria ainda não consegue transferir seres vivos, você prefere ir pela rede aérea, invisível para os demais.
- Oh Rui! Só falta precisar carimbar com tinta azul escuro e reconhecer firma nos documentos, não é?
Quando sai do órgão público no fim da tarde, resolve ficar por ali mesmo. Aciona seu “controle pessoal celular” trazendo sua “casa virtual” para onde está ao invés de pegar transporte e todo o movimento de pessoas que preferem voltar para o mesmo lugar de onde vieram.
Na verdade, ninguém tem mais endereço físico como conhecemos até o século XX. Temos apenas endereço eletrônico e GPS. Aonde formos nossa “casa virtual” estará a um aperto de botão do seu intransferível “controle pessoal celular” que sabe tudo sobre você e só funciona com você. Essa revolução foi causada pela formulação matemática de Einstein: E = mc2, isto é, tudo que era matéria, desmaterializou-se e agora é só energia. Assim, cada um pode dar a forma que preferir a energia, isto é, sua própria moda, decoração, design, casa, carro, etc. tudo virtual, embora pareça, ilusoriamente, material.
- Oh Rui, será que os vírus, na hora da transferência, não vão colocar a cama virtual no chuveiro, se é que vamos precisar tomar banho e com que água?
Na cozinha na hora de jantar você chama sua mulher que surge em uma tela que é a própria parede lateral, e ela senta do outro lado da mesa, na “casa virtual” dela, mas é como se estivessem na mesma mesa que você está agora.
Enquanto conversam, na outra parede, digo na outra tela, seu clone, isto é, seu filho o chama.
Você conversa com ele e com sua mulher como se estivessem todos juntos na mesma mesa, embora cada um esteja distante do outro, algumas centenas de quilômetros. No canto da tela, há um mapa GPS indicativo de onde cada um está, as características climáticas do lugar naquele instante, a saúde pelo DNA, a foto kirlian, o horóscopo diário, o I Ching, o estado de humor, o estado emocional e os campos energéticos dos que aparecem na tela (você escolheu o que deve aparecer entre as 1.200 opções!!!).
Os noticiários net-on-line (você dispõe de mais de 290, simultaneamente), e mais os programas que você escolheu, aparecem espalhados nas diversas e pequenas telas que contornam a tela central. Sua cognição se desenvolveu em tal nível nos últimos 30 anos, que você pode assistir três a quatro programas simultaneamente.
A filha do casal – clone de sua mulher – aparece na hora do jantar em outra tela de parede inteira e pede a mãe alguma coisa que esta solicita ao sistema de transferência de matéria, apertando aquele único botão, e mandando que seja entregue, on-line, no endereço eletrônico + GPS, onde está a filha de sua mulher.
Os quatro (o pai com seu clone – filho com a mulher e com a clone – filha dela)[1] conversam como se estivessem juntos na mesma mesa, até que o filho resolve ir fazer alguma outra coisa, saindo da conexão.
Num dia “Tempo Net” programado, já que o calendário e o conceito de “mês, semana e fim de semana” acabaram, combinam uma posição “GPS – primavera” para se encontrarem fisicamente e escolhem a “casa virtual” de quem vão ficar em função da estação do ano no local para onde vão. O mais votado deve levar seu “controle pessoal celular” para transferir sua casa para esse ponto GPS e receber todos.
Depois de dois dias de encontro, cada um volta para seus endereços GPS, mas a filha – clone resolve ficar mais perto da mãe por uns dias.
O consumo foi desmaterializado completamente como condição para salvação do planeta. Há um excesso de alternativas virtuais gratuitas e os baixíssimos impostos pagos sustentam os cursos públicos para desenvolvimento da cognição e motivação nos quais participam os que se “desguiaram“.
O mundo mudou muito nos últimos 280 anos.
Os valores transferiram-se do “fazer” na revolução industrial, para o “ter” que quase destruiu a terra no ano 2000, e agora em 2280 os valores transferiram-se para o “ser” como a melhor forma de dar sustentação à população e preservar o ambiente para todos.
A mudança moral do “ter” para o “ser”, transformou os valores de propriedade em valores de conhecimento, criatividade e intuição, emoções e relacionamentos em detrimento de objetos materiais que praticamente deixaram de existir, exceto nos museus de história do tempo.
Agora todos têm disposição para tudo que quiserem, já que aquele tempo consumido em trabalho para o “ter” pode ser eliminado e preenchido com esforços prazerosos para o “ser”.
Um valor extraordinário para o desenvolvimento e elevação do espírito humano, baseando-se nas novas descobertas e compreensão de estar de passagem na dimensão conhecida como “vida”, na qual, “malas pesadas tiram o prazer de caminhar”.
– Vamos dormir – diz o pai para a mãe, durante o encontro real.
– É Rui, pelo jeito, certas coisas vão demorar mais para mudar… Ainda bem!!!
O futuro pode estar difícil de ser profetizado, mas pode ser fácil de ser “reconstruído”.
fonte: Galáxia Criativa, 2003. A mola propulsora para criatividade, inovação e futuro. Rui Santo.
[1] Essa foi uma decisão da humanidade: cada um cria clones de si mesmo e não da junção de um homem com uma mulher naquele tal de casamento que existia no sec. XX. Tal decisão está criando um grande e novo problema. O avanço do ser humano parou nas cognições que existiam, já que todos querem ter seu clone aos 25 anos. Uma solução está sendo discutida no universo: clone de si mesmo somente após os 65 anos, já que a população vive até os 105 anos, como único jeito de avançar cognitivamente uma vez que se pressupõe que aos 65 anos todos evoluíram mentalmente
CRIA = ATIVA + A + MENTE
Se você concorda, por favor, envie para todos os seus amigos.
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